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Já não somos Charlie: Acabaram as filas para o jornal satírico

c h 25 2 A euforia em torno do Charlie Hebdo parece ter terminado. No regresso do jornal satírico às bancas, hoje, já não houve filas de espera. Quase dois meses após o ataque terrorista contra a redação, a tiragem de 2,5 milhões chegou para as encomendas

“Somos todos Charlie”, gritou o mundo inteiro ainda há poucas semanas. Da primeira vez que o jornal satírico francês saiu após o ataque terrorista contra a redação não houve exemplares para toda a gente, para desespero das muitas pessoas que, durante a madrugada, foram fazendo fila para tentar comprar a ‘edição dos sobreviventes’.

O ataque foi há quase dois meses e agora já não somos Charlie. A edição de hoje, que teve uma tiragem de 2,5 milhões de exemplares, não provocou filas de espera nos quiosques de Paris e chegou para as encomendas. A 14 de janeiro, esgotou em minutos.

A surpresa dos clientes era a ‘facilidade’ com que agora se encontra o semanário, como acontceu com Sandrine Mathieu. Esta parisiense, citada pela Lusa, esteve “dois dias até conseguir a última edição, logo após os atentados”, mas hoje “tentou” comprar dois exemplares e não teve qualquer dificuldade.

“Fico muito contente que haja gente a interessar-se para mostrar que lutamos pelo direito de expressão. Fico muito contente que o jornal regresse. Não pensava que um lápis pudesse matar”, afirmou esta funcionária pública, de 35 anos.

A principal diferença do Charlie Hebdo de hoje para a ‘edição dos sobreviventes’ é a falta de destaque ao profeta Maomé. “Não parem de o desenhar”, apelou Sandrine Mathieu, embora Marilord Benisti, funcionária no Ministério da Cultura, tenha opinião contrária: “O Charlie Hebdo não se reduz às caricaturas de Maomé. O que é mais curioso é que as pessoas veem o Maomé em todo o lado, mesmo quando não há Maomé nenhum”.

Também Marilord Benisti ficou surpreendida, até “aliviada”, pela facilidade com que conseguiu, hoje, comprar o jornal satírico: “Da última vez, não se tratou de entusiasmo, tratou-se de apoio. Ontem, passei aqui no quiosque para ver se iam receber o jornal, mas disseram-me que não sabiam. Fico contente por conseguir comprá-lo”.

Depois do mediatismo da ‘edição dos sobreviventes’, a 14 de janeiro, os quiosques de Paris passaram a recusar fazer reservas para o Charlie Hebdo. Junto à saída do metro na Praça da Nação, só cerca de metade dos 50 exemplares recebidos foi vendida durante a primeira hora.

“Desta vez, há menos entusiasmo, mas de certeza que ao meio-dia já não tenho nenhum exemplar”, salientou a gerente: “Não houve filas, ao contrário do dia 14 de janeiro, quando abrimos às seis da manhã de propósito”.

O Charlie Hebdo traz hoje na capa uma matilha de cães enraivecidos (ou seja, os políticos Nicolas Sarkozy e Marine Le Pen, o Papa Francisco, um jihadista, um banqueiro e um jornalista) a perseguir um cão que foge com um jornal (um ‘Charlie’, claro) na boca. “Lá vamos nós outra vez”, ironiza o título.

Recorde-se que a redação foi atacada a 7 de janeiro, num atentado que provocou 12 mortos, incluindo o diretor e três dos principais cartoonistas do jornal: Stéphane ‘Charb’ Charbonnier, Jean ‘Cabu’ Cabut, Georges Wolinksi e Verlhac ‘Tignous’ Bernard.

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