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Incêndios em Portugal difíceis de ultrapassar mesmo com planeamento, alerta especialista

O especialista em território José Manso afirmou hoje que o país “muito dificilmente” conseguirá ultrapassar o problema dos fogos, mesmo com planeamento e muitos recursos, acrescentando que Portugal deveria apostar em espécies arbóreas de crescimento lento e menos inflamáveis.

O professor catedrático da Universidade da Beira Interior disse, em declarações à agência Lusa, que o país tem de “evoluir no planeamento, no ordenamento”, mas que mesmo assim está convencido de que Portugal “dificilmente” resolverá esta questão.

José Manso referiu que países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos e a Suécia (que enfrentaram incêndios recentemente), “têm dificuldade em controlar estas situações”, mesmo “com um bom cadastro, com meios financeiros e com recursos técnicos e logísticos avultados”.

Falando especificamente do incêndio de Monchique, que lavra desde sexta-feira no distrito de Faro, o especialista disse acreditar que resulta de “uma sequência de erros no planeamento, no ordenamento da floresta e do país, que se foram cometendo ao longo do tempo”.

“Isto associado depois com a emigração, com o abandono dos campos, com a falta daqueles gados, sobretudo cabras, que muitas vezes comiam as ervas e o mato, conduz-nos a esta situação”, acrescentou.

José Manso referiu também que a zona de Monchique é “muito arborizada” e “muito irregular”, pelo que é difícil combater os incêndios rurais.

Outra questão particular do Algarve, notou o especialista, são as opções de habitação dos cidadãos estrangeiros, que “gostam por vezes de ter casas isoladas no meio do campo, no meio da floresta”.

“É evidente que todos nós gostaríamos de ter uma vivenda no campo, isolada, com certas condições, mas isso precisa de um planeamento bem feito e precisa de limpezas permanentes à volta das casas”, destacou.

“As pessoas limitam-se a ter um terreno, a apresentar um projeto, implantar a casa e muitas vezes não ligam efetivamente ao que a rodeia e à proximidade de ervas, mato e de florestas”, acrescentou.

O especialista em território, demografia e despovoamento considerou também que é “fundamental” que Portugal aposte noutras espécies, “nomeadamente espécies de crescimento lento”, como o castanheiro ou o carvalho, que “são mais dificilmente inflamáveis” do que o eucalipto, por exemplo.

O incêndio que deflagrou na sexta-feira em Monchique, no distrito de Faro, fez 30 feridos, um dos quais em estado grave.

O fogo lavra também nos concelhos vizinhos de Silves e Portimão.

Segundo o Sistema de Emergência da União Europeia, arderam 17.400 hectares nestes cinco dias.

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