Num país de poetas, e onde poetas acabam na miséria, os livros de Herberto Helder custam centenas de euros. E a tendência é inflacionarem.

Um dia depois do anúncio da morte de Herberto Helder, um dos seus livros mais recentes alcançou os 250 euros num site de classificados.

É o último livro de poemas originais de Herberto Helder, ‘Morte sem Mestre’, publicado em junho de 2014 e que inclui um CD com a leitura de poemas pelo autor. O volume só teve uma tiragem de 3000 exemplares e desde logo começou a ser disputado nos sites de classificados ou de venda de livros em segunda mão. Hoje, no OLX, por exemplo, havia mais de uma dezena de volumes à venda, nenhum por menos de 45 euros. Na plataforma de revenda do site da Fnac estava em 200 euros. O preço original do livro, em banca, na data de edição, era de 22 euros.

Desde 2008, com ‘A Faca não corta o Fogo’, os livros do malogrado poeta tiveram edições limitadas. Este, também esgotado na semana em que chegou às livrarias, pode ser encontrado nos mesmos sites a preços ainda mais elevados (entre os 200 e os 390 euros). Já ‘Servidões’ (de 2013), também com edição limitada, entre os 75 e os 250 euros – o preço em livraria era de €19,80.

Livros anteriores, como ‘O Amor em Visita’, ‘Última Ciência’, ‘Poemacto’ ou ‘Vocação Animal’ atingem ou podem até ultrapassar esse valor mas não se encontram facilmente, nem online.

As edições limitadas, ao contrário do que se disse, não são nenhuma manobra de marketing das editoras, antes uma imposição do autor. “Imprimimos os livros que o Herberto Helder autorizou que se fizessem e pusemo-los no mercado”, dizia o seu editor numa entrevista recente. “Não tínhamos alternativa senão cumprir escrupulosamente as instruções do autor. São as regras dele.”

Recorde-se que, em 1994, Herberto Helder recusou o Prémio Pessoa, no valor de 35 mil euros.