O telemóvel de Armando Vara foi colocado sob escuta no dia em que o ex-ministro socialista almoçou com Manuel Godinho, principal arguido do processo Face Oculta. Inspetor da Polícia Judiciária, Rui Carvalho, considerou esse almoço “anormal”.
Depois de a sessão de quinta-feira ter sido cancelada devido à greve, o julgamento do caso Face Oculta foi retomado na sexta-feira, no tribunal de Aveiro, com a inquirição do inspetor da Polícia Judiciária, Rui Carvalho, ouvido na condição de testemunha de acusação.
Artur Marques, advogado de Manuel Godinho, considerou que o testemunho de Rui Carvalho não trouxe nada se significativo ao julgamento.
“O investigador da Polícia Judiciária não acrescenta nenhuma novidade ao que já constava no processo, o que não surpreende”, afirmou Artur Marques, à porta da sala de audiências. Segundo o causídico, parte do depoimento de Rui Carvalho foi “absolutamente ridícula”.
Mas Rui Carvalho fez algumas revelações. A principal foi a decisão da Polícia Judiciária, que colocou o telemóvel de Vara sob escuta depois de um almoço entre o ex-ministro socialista e Godinho, em Vinhais, no qual Godinho, principal arguido no processo, ofereceu a propalada caixa de robalos a Armando Vara. Esse almoço, a 7 fevereiro de 2009, foi classificado por Rui Carvalho como “anormal”.
Greve impede sessão
O presidente do coletivo de juízes, Raul Cordeiro, suspendeu a sessão de quinta-feira, devido à greve geral, que levou à ausência de duas oficiais de Justiça. Raul Cordeiro explicou aos advogados, na sala de audiências, que a sessão teria de ser adiada para sexta-feira, 25 de novembro, com a inquirição a Rui Carvalho, inspetor da Polícia Judiciária.
Defesa de Vara pediu escutas com Sócrates
O tribunal de Aveiro rejeitou o pedido feito por diversos advogados de defesa, que solicitarem que as novas escutas que envolvem Armando Vara não fossem transcritas para os autos.
As escutas em causa dizem respeito a duas conversas telefónicas, nas quais Vara aborda a hipotética demissão de Cardoso dos Reis, então presidente da CP. Trata-se, segundo a acusação, de duas provas de que o ex-ministro tinha capacidade para influenciar as decisões de pessoas com poder, que exerciam cargos governativos, entre as quais José Sócrates.
No entanto, a defesa contesta esta acusação. E para provar a sua tese fez um pedido aos juízes do Tribunal de Aveiro: acesso a todas as escutas entre o arguido Armando Vara e José Sócrates.
Tiago Rodrigues Bastos, advogado de Vara, sustentou que o acesso a estas escutas com José Sócrates permitiria esclarecer o contexto da comunicação entre ambos e deitar por terra qualquer teoria de tráfico de influências.
Recorde-se que a destruição destas escutas foi promovida pelo procurador-geral, Pinto Monteiro e acabou por ser decidida por Noronha do Nascimento, presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
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