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Crianças fumam em aldeia de Mirandela, em nome da tradição

A Festa dos Reis na aldeia de Vale de Salgueiro, em Mirandela, ganhou visibilidade pela polémica imagem de crianças a fumar cigarros que o presidente da junta, Carlos Cadavez, garante ser uma tradição, mas em idades mais avançadas. “Há aqui na aldeia um senhor com 101 anos que diz que já no tempo dele fumavam rapazes e raparigas”, referiu.

Carlos Cadavez reiterou, em declarações à Lusa, que os mais velhos desta localidade do distrito de Bragança atestam que se trata de um ritual antigo e que Reis sem cigarros não é festa, mas reconheceu que tem sofrido alterações.

“Começaram a aparecer as televisões e as pessoas põem o cigarro na boca dos filhos com quatro ou cinco anos, só para aparecer. Antigamente só os rapazes e raparigas a partir dos 10, 11 anos”, afirmou.

Os Reis, como disse à Lusa, são a festa mais importante desta aldeia, supera inclusive a do verão, e ocorre religiosamente sempre nos dias 05 e 06 de janeiro.

Se a data calhar durante a semana, é como que “feriado” para a população rural da localidade.

Ao certo ninguém sabe como é que o cigarro foi introduzido nesta festa. Segundo o presidente da junta, “o que se fala é que teria a ver com a emancipação” dos jovens.

“Há aqui na aldeia um senhor com 101 anos que diz que já no tempo dele fumavam rapazes e raparigas”, afiançou.

O autarca tem 45 anos e garantiu que também ele fumou desde novo nesta festa, assim como a restante juventude da época.

“Não sou fumador e entre o pessoal da nossa juventude poucos são os que fumam”, assegurou.

O presidente da junta tem três filhas e adiantou que só a mais velha, com 11 anos, vai fumar este fim de semana, assim como a maioria das cerca de 20 crianças e jovens desta aldeia com aproximadamente 200 habitantes.

Segundo disse, é tradição, mas não é obrigatório e o próprio defende que os mais pequenos não devem fumar, assim como há pais que não deixam os filhos pegar nos cigarros, independentemente da idade.

A prática, como admitiu, já trouxe problemas com um deputado municipal a levantar a questão na Assembleia Municipal de Mirandela e o presidente da junta antevê que “amanhã ou passado o cerco irá apertar-se”.

Este fim de semana a tradição repete-se numa festa em que é o “Rei” que paga as despesas, no caso, um jovem da aldeia.

A conta rondará os “2.000 a 2.500 euros” segundo o presidente da junta e não têm faltado mordomos, apesar dos custos que incluem gaiteiro, música, comida, tremoços e vinho.

A celebração dos Reis arranca, no sábado, em Vale de Salgueiro, com uma arruada a cargo do gaiteiro, no final da tarde.

Depois de uma merenda, o animador volta a sair já acompanhado pelo “Rei” e vão de casa em casa a distribuir tremoços e vinho.

O autarca acredita que antigamente estes seriam os produtos com menos custo para oferecer, daí se manterem de ano para ano com o “Rei” a começar a preparação no dia de Natal. É ele que coze os tremoços, para serem curados até á festa.

No domingo, às seis da manhã o gaiteiro faz a alvorada pela povoação e o “Rei” com uma carapuça enfeitada com ouro emprestado pelas pessoas da aldeia, volta a andar de casa em casa a desejar bom ano.

A população contribuiu com o que entender para ajudar nas despesas da festa.

A missa é um dos momentos altos, durante a qual o “Rei” escolhe o sucessor que, depois da procissão de Santo Estêvão, oferece aos populares uns aperitivos.

Um almoço e uma tarde com a dança de origem celta da Murinheira, ao som da gaita-de-foles, encerram as festividades.

Apesar do despovoamento, esta aldeia já teve mais dificuldade em arranjar mordomo do que agora, segundo o presidente da junta.

Como contou, antigamente chegaram a ter de ser os mais velhos a aceitar a coroa e houve anos em que a festa não se realizou por falta de interessados.

“Agora, ainda há muita juventude e a coroa fica logo encomendada”, garantiu o autarca.

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