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Cancro: Bactérias que vivem no mar dos Açores sob análise para “possíveis medicamentos”

acores santa mariaOs futuros medicamentos contra o cancro, entre outras patologias, podem vir do mar dos Açores. Bactérias recolhidas a mais de mil metros de profundidade estão a ser analisadas por cientistas portugueses e dos EUA e “podem ser úteis” para utilização farmacêutica, como explica Ana Lobo.

As bactérias presentes no mar dos Açores “podem ser úteis” na composição de fármacos contra várias patologias, incluindo cancro. Ana Lobo, química do Departamento de Química da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, explicou à Lusa que estas bactérias marinhas, recolhidas ao largo das ilhas de São Miguel e Santa Maria, a uma profundidade superior a mil metros, estão a ser analisadas com esse propósito.

“Trata-se das prodigiosinas que nós isolamos das bactérias recolhidas no mar dos Açores e que são antibióticos, anticancerígenos, antimaláricos, imunossupressores. Portanto, têm uma grande gama de actividade farmacológica e estão a ser já desenvolvidos, alguns deles, em versão farmacêutica”, revelou Ana Lobo.

O projeto, no qual participam investigadores da Califórnia (EUA), da Universidade dos Açores, da Universidade Nova de Lisboa e outros cientistas, visa “descobrir compostos marinhos”, como bactérias, e identificar as que “podem ser úteis” como “possíveis medicamentos” ou que “possam originar medicamentos”.

É o caso das prodigiosinas (nome que vem de ‘prodígio’), compostos das estirpes streptomyces que foram isolados numa triagem realizada no Centro Biotecnológico de San Diego, na Califórnia. Estas bactérias marinhas são metabolitos secundários, compostos orgânicos que não estão directamente envolvidos em processos de crescimento, desenvolvimento e reprodução dos organismos, que se formam na bactéria depois desta ter crescido e que podem permitir a geração de produtos sintéticos e biológicos.

Os trabalhos de laboratório “ainda decorrem”, acrescentou a investigadora, pois o “processo vai levar o seu tempo” até que os compostos possam ser transformados num medicamento. São “processos morosos”, reforçou Ana Lobo, lembrando que é preciso “verificar a química”, “aumentar a estabilidade” e “reduzir a toxicidade”, entre outros trabalhos.

De acordo com a investigadora, existem bactérias terrestres que produzem compostos análogos, “conhecidos há muitos anos”, e cuja cor vermelha originou o fenómeno das estátuas de santos em Itália que “supostamente choravam” sangue.

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