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Após a “rotura” é preciso “um novo modelo económico”, diz presidente do CES

silva peneda 210Silva Peneda deixa o alerta: “o desemprego não se resolve se o país não crescer a dois por cento”. O presidente do Conselho Económico e Social adianta que “a crise foi muito profunda” e que Portugal precisa de “criar um novo modelo económico”.

“A crise foi muito profunda”, esgotando “o modelo económico que vigorava até 2011” e obrigando os decisores políticos a pensarem num novo paradigma. É este o resumo de Portugal traçado pelo presidente do Conselho Económico e Social (CES), Silva Peneda. Soluções? Recomeçar do zero: “vamos ter uma rotura e precisamos criar um novo modelo económico para o país”.

“A nossa crise foi muito profunda e não vai ser possível voltar ao ponto de partida. O modelo económico que vigorava no país até 2011, baseado na construção civil, no imobiliário, no crédito fácil, no consumo e no investimento público, esgotou-se”, explicou Silva Peneda, durante uma entrevista à agência Lusa.

Com Portugal a atravessar “uma fase de transição”, torna-se fundamental atacar desde já o principal problema do país: o desemprego. Isso só será possível se a economia crescer, defendeu: “o desemprego não se resolve se o país não crescer, no mínimo, a dois por cento”.

“Vamos ter uma rotura e precisamos criar um novo modelo económico para o país”, reforçou Silva Peneda, que defende “uma visão para o país” baseada num sistema de produção de bens transaccionáveis e que aproveite as vantagens competitivas de Portugal, como é o turismo, um setor “que se tem portado muito bem, tal como a agricultura”.

“Durante muito tempo apostou-se numa estratégia de produção de bens não transaccionáveis, mas a quebra na aposta dos bens transaccionáveis levou ao empobrecimento regional”, argumentou o presidente do CES, defendendo ainda o investimento na indústria, mesmo com uma maior demora a nível na criação de emprego.

Só que o crescimento económico é apenas um três pilares que, no entender do ex-ministro do Emprego (no Governo de Cavaco Silva), podem sustentar a recuperação de Portugal: os restantes são a consolidação orçamental e a reforma do Estado. “Terá de ser feito um esforço para décadas”, avisou.

“Deve haver, em simultâneo com a consolidação orçamental, crescimento económico e a reforma do Estado e esse espaço deste triângulo dá a coesão social que, neste momento, levanta problemas porque a classe média está a desaparecer e isso é preocupante em termos sociais”, complementou Silva Peneda.

Só com um programa de médio prazo, resultante de “um alto nível de compromisso” político e social, Portugal poderá recuperar a partir de junho de 2014, quando terminar o resgate da troika. “Algo se vai passar”, antecipou, mas terá de ser “algo” gradual: “o gradualismo é a arte fina da política, pois não acredito em medidas abruptas na economia e na política”.

Na mesma entrevista, Silva Peneda voltou a distanciar-se das políticas ditadas pela troika. “Há uma clara falta de noção exata da realidade do que é a economia portuguesa por parte dos membros da troika. Dá ideia que fizeram um modelo, que é um modelo de pronto a vestir, que se aplica, indiferentemente das características culturais e económicas de cada país”, sustentou.

No caso do modelo aplicado a Portugal, “há vícios na conceção do programa que têm feito com que aquilo que era programado, as metas programadas, não tenha sido cumprido”. E o CES foi “a primeira instituição que falou num programa mal desenhado e num ciclo vicioso, centrado na austeridade e na incapacidade de redução do défice público”, afirmou o presidente.

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