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“A escravatura vai aumentar” com a falta de trabalho, denuncia o Sindicato da Construção

construcao genericaA “escravatura” continua a ser uma realidade na construção civil, tanto em Portugal como no estrangeiro. A denúncia parte do sindicato e o presidente, Albano Ribeiro, antecipa mesmo o aumento do fenómeno: “vai aumentar porque se querem aproveitar de as pessoas não terem trabalho”.

O setor da construção entrou num ciclo vicioso: a crise fez diminuir o valor das encomendas, levando à redução de trabalhadores e ao aumento da “escravatura”. “Escravatura”, sim, insiste o presidente do Sindicato da Construção, Albano Ribeiro. “As obras de pequena dimensão, na área da requalificação urbana, estão a aparecer como cogumelos em Portugal – e ainda bem – mas a escravatura vai aumentar porque se querem aproveitar de as pessoas não terem trabalho”.

O alerta foi deixado hoje, numa conferência de imprensa realizada no Porto que serviu para antecipar a reunião de amanhã com o secretário de Estado das Comunidades. Um encontro quer servirá para o sindicato denunciar as ilegalidades cometidas por “angariadores” e pelas “redes mafiosas” que recrutam trabalhadores: “muitos trabalhadores estão a ser chamados para trabalhar, mas a ganhar 300 euros, perdendo o rendimento mínimo e o fundo de desemprego que recebiam”.

Os “angariadores de mão-de-obra” e as “redes mafiosas” são uma preocupação crescente dentro do setor, pois têm sido centenas – com destaque para o distrito de Braga – os trabalhadores a serem aliciados para obras no estrangeiro onde ficam sem qualquer apoio.

“Os trabalhadores da construção estão a ser escravos no estrangeiro, para onde são levados por angariadores para várias obras, públicas e privadas, dizendo-lhes que vão ganhar 2000 e tal euros. Quando chegam lá, a triste realidade é outra e querem pagar-lhes 300, 400 ou 700 euros. Os trabalhadores não têm condições para ficar e são obrigados a regressar pelos próprios meios, até porque são países onde o custo de vida é muito elevado”, denunciou o Albano Ribeiro.

Os relatos mais recentes chegam das grandes obras que ainda existem em Portugal (como a autoestrada transmontana), onde os “angariadores” contatam os trabalhadores, que receiam a falta de trabalho após a conclusão da obra atual, e prometerem melhores condições em países como Bélgica, Luxemburgo e Suíça, onde ficam “a viver da caridade de emigrantes da primeira geração, que já lá estavam”. Em último caso, acrescentou, “a dormir na rua”.

A situação agravou-se “nos últimos dois meses”, envolve “centenas de trabalhadores” e “a tendência é para aumentar até aos milhares, se não forem tomadas medidas a curto prazo”, com uma “intervenção aos mais variados níveis envolvendo quer o sindicato, quer a ACT [Autoridade para as Condições do Trabalho], quer a secretaria de Estado das Comunidades”.

Sendo Braga “a capital das redes mafiosas e dos angariadores de mão-de-obra”, o sindicato defende que “a Polícia Judiciária deve dar particular atenção a este distrito”, tanto mais que “alguns desses angariadores são antigos operários da construção, que conhecem os meandros da atividade” e trabalham “de forma articulada” em várias regiões do país.

“Está na altura de dignificar o setor”, exige Albano Ribeiro: “a situação tem tendência para se agravar muito mais, mas acredito que a reunião de amanhã vai contribuir muito para moralizar e humanizar o setor da construção”.

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