Vários venezuelanos apelaram hoje a Portugal e aos portugueses que os ajudem a desencadear uma mudança no regime político que vigora no país, agradecendo a contribuição que têm dado ao desenvolvimento local.
“Obrigado pela entrevista. Leve-a ao povo português para que nos apoiem, que apoiem este povo como nós apoiamos os portugueses que vieram para a Venezuela. A Venezuela estendeu as mãos a todos os europeus, mas, sobretudo, aos portugueses que têm uma comunidade muito grande”, disse um sindicalista à agência Lusa.
Plácido Mundaray, da Confederação de Sindicatos Autónomos da Venezuela, foi um dos milhares de manifestantes que hoje voltaram às ruas de Caracas, capital do país, numa resposta ao apelo do presidente do parlamento, o opositor Juan Guaidó, e para exigir uma mudança de regime no país.
“Os portugueses que vieram são mão-de-obra qualificada e têm sido uma comunidade trabalhadora”, frisou Plácido Mundaray.
O sindicalista explicou que “o povo tem fome e há miséria”, acrescentando: “Não há água, nem remédios. Estamos a sofrer, as crianças morrem e a diáspora venezuelana dá tristeza”.
“Que vejam o dano que nos fizeram em 20 anos de ditadura de Chávez (Hugo) e do ‘madurismo’ (Nicolás Maduro). Esse senhor (Maduro) diz que é o presidente dos trabalhadores e isso é falso. Ele terminou com os contratos coletivos e hoje os trabalhadores venezuelanos não ganham nem cinco dólares (4,50 euros) por dia”, explicou.
Gladys Mora, doméstica, afirmou que hoje marcou presença nos protestos e aqui vai ficar “até a ditadura cair”, queixando-se de não haver “liberdade nem democracia” na Venezuela.
A venezuelana afirmou ser da opinião de que Juan Guaidó “não pode fazer milagres”.
“[É] mais um cidadão que nos está a ajudar para sair da ditadura”, referiu, lamentando que “há pessoas que pensam que têm uma varinha mágica e que com apenas falar tudo está solucionado”, mas todos têm de lutar.
” Muitas vezes dizem que o jornalista exagera, mas a realidade é que estamos em ditadura e isso não é mentira”, disse Gladys Mora, considerando que “Portugal tem dado muito à Venezuela” e que tem amigos “de Portugal que chegaram (ao país) em alpercatas, como os camponeses”.
“Tudo o que têm é porque suaram. Os portugueses, italianos, espanhóis não enriqueceram de um dia para o outro, foi com sacrifício e esforço, e isso é o que também temos de fazer para levantar o nosso povo da Venezuela”, acrescentou.
Gladys Mora agradeceu “à comunidade portuguesa por todos os bens, estruturas belas e bonitas, pela amizade e pelo carinho que têm ao [povo] venezuelano”, vincando que são uma comunidade “bastante agradecida”.
O advogado Jesus Peñalver disse à Lusa que está a protestar “pacificamente, como faz a grande maioria, de forma legítima, legal, democrática, constitucional e pacífica”, em resposta ao apelo da oposição.
“Hoje passam 20 tortuosos anos, 9 meses e 14 dias (desde que o chavismo chegou ao poder). Esse é o tempo de um pesadelo que arruína cada dia ainda mais as já minguadas condições de existência dos venezuelanos. Protesto contra o silêncio e a apatia”, afirmou.
O advogado explicou que está nas mãos do povo “mudar esta triste realidade” e enfatizou que “ninguém poderá dizer que não fez nada, que ficou calado” e que fechou os “olhos e calou a voz”.
“Muito obrigado por esta oportunidade (entrevista). Não nos esqueçam. A Venezuela é uma terra de graça (abençoada) (…). Somos nós quem tem de resolver esta grave crise, mas vocês também, fazendo-se eco, das nossas orações, do nosso apelo ao mundo. Sendo eco, estão a dar-nos um magnífico apoio”, disse.
Segundo Jesus Peñalver, Portugal, entre outras coisas, pode “exercer pressão perante os organismos internacionais, para que permitam a entrada de ajuda humanitária e para que libertem os presos políticos”.
“Não fiquem em silêncio, continuem a ajudar-nos”, concluiu.