Com cerca de 30 anos de investigação em malacologia (ramo da biologia que estuda os moluscos), António Frias Martins descobriu nos Açores cerca de 30 novas espécies, tendo agora de as validar cientificamente: “o facto de estarem descobertas não quer dizer que estejam acessíveis para estudo. Só depois de estarem descritas é que ficam acessíveis para a ciência. É-lhes dado um nome e feita uma descrição morfológica e anatómica”.
Até ao momento, a ciência reconhece nos Açores 102 espécies de moluscos terrestres (caracóis), identificados e descritos, dos quais quase metade (47) são endémicas. A estas podem juntar-se oito da ilha de Santa Maria, quatro das Flores e duas do Corvo, com a mais pequena ilha do arquipélago “também a ter espécies endémicas”.
“Cada ilha é como um tubo de ensaio da evolução e tem características próprias que as identificam como espécies diferentes”, salientou o investigador, citado pela Lusa, descrevendo o trabalho de descrição como “muito interessante, mas muito difícil, porque morfologicamente as espécies apresentam muitas variedades, embora existam padrões que se podem reconhecer”.
Numa primeira fase, que deve durar entre dois a três meses, Frias Martins vai preparar a descrição das espécies identificadas nas duas ilhas do grupo ocidental. De momento, disse, tem dissecados e medidos 100 exemplares de moluscos do Corvo e das Flores: para cada exemplar é preciso analisar 20 parâmetros.
O mais recente ‘habitante’ dos açores é o caracol verde, uma nova espécie endémica apresentada recentemente na revista Zootaxa. Este caracol vive em Santa Maria, uma ilha com 14 espécies exclusivas de entre as 20 endémicas registadas. “Foi descoberta numa expedição feita em 1993, mas já se conhecia as conchas desta espécie, que foram recolhidas em 1857”, explicou Frias Martins.
Para além dos moluscos terrestres, como caracóis e lesmas, nos Açores encontram-se moluscos marinhos “com grande interesse científico”, como lulas, ameijoas e búzios.