Mário Soares acha que “a troika fala de mais”. O antigo Presidente da República acusa os elementos do Fundo Monetário Internacional (FMI) de serem “um protetorado da troika”. No programa ‘Terça à Noite’ da Renascença, Soares acusou ainda o Governo de “destruir muitas das coisas” conseguidas “durante muitos anos”.
Mário Soares dispara contra a troika, que é acusada de “falar de mais”, contrariando uma postura de recato, que se exigiria às entidades que participam no programa de resgate a Portugal. Segundo o antigo chefe de Estado, “a troika deve estar calada, falar apenas com o Governo e ir-se embora”.
O antigo Presidente da República não compreende que elementos da troika estejam a “dar opiniões públicas”, uma vez que esse procedimento representa “uma ofensa à pátria portuguesa”.
Lembra Soares que “Portugal é o país que tem as mais antigas fronteiras da Europa” e que está a aceitar uma realidade que não faz sentido. “E nós aceitamos uma coisa dessas? Eu não gosto disto. Se me dissessem agora: ‘Venha cá ouvir a troika’, eu não iria”, revela.
Mário Soares lembra que foi primeiro-ministro quando a troika esteve em Portugal e nota grandes diferenças entre o comportamento dos elementos do FMI de então e os atuais.
“Mas o que é que é a troika, valha-me Deus?… Quando era primeiro-ministro, nunca a senhora do FMI que cá esteve deu alguma entrevista pública. Chegar a um país e proceder como se fosse um protetorado da troika não é coisa que se faça”, defendeu Mário Soares, que acusa a troika de serem “uns sujeitos bem pagos”, que têm “conceções diferentes uns dos outros” e que participam em conferências a “dar ordens”. Este comportamento, para Soares, é “uma pouca vergonha”.
Mas as críticas de Soares seguem noutro sentido. O Governo de Passos Coelho não foi poupado, nesta entrevista da Rádio Renascença. “O Governo está a destruir muitas das coisas que nós fizemos durante muitos anos”, revela ainda Mário Soares, que, no entanto, não defende eleições antecipadas, nem qualquer cenário que possa pôr em causa a estabilidade política do país, numa altura tão crítica.
O setor que mais preocupa o antigo Presidente da República é a Justiça, que “não funciona bem” e representa “um grande risco” para a Democracia.