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Provedora dos animais não dura dois meses em Lisboa: “Não é só o tijolo que tem de mudar”

cao e gatoA falta de condições do canil/gatil de Lisboa, “a promiscuidade” da bastonária dos veterinários ser “candidata à vereação”, o afastamento de António Costa e o “paternalismo” da Casa dos Animais levaram Marta Rebelo a demitir-se de provedora dos animais, que exercia há menos de dois meses.

Lisboa não tem provedora dos animais. Marta Rebelo não demorou dois meses a bater com a porta, apontando o dedo “às dificuldades, às inverdades, à ausência de emergência, à inexistência de urgência que circunda a Casa dos Animais de Lisboa”. Casa dos Animais que é, desde 18 de junho, a nova designação do canil/gatil municipal e cujo cargo de provedora fora anunciado por António Costa, o presidente da Câmara.

No Facebook, a jurista publicou os motivos que levaram à demissão. São vários, mas resumem-se ao plano político: Marta Rebelo denuncia o “afastamento”do autarca que a nomeou e a integração da bastonária da Ordem dos Médicos Veterinários, Laurentina Pedroso, na lista de suplentes da candidatura Juntos Fazemos Lisboa, liderada por António Costa.

“Tornou-se para mim claro que o meu sítio não é ou será alguma vez aquele em que se constitui um grupo de trabalho que alia peritos e os serviços municipais, sob o crédito e a batuta institucional da pessoa que ocupa a louvável posição de bastonária da Ordem dos Médicos Veterinários, para um mês e meio depois ver essa figura institucional numa lista partidária candidata à vereação da Câmara de Lisboa”, escreveu.

“A promiscuidade que este acto indicia, noutras circunstâncias inocente, destrói completamente a credibilidade de um Grupo de Trabalho que se queria independente, analista ao ínfimo das práticas actuais da Casa dos Animais e recomendador rigoroso das boas práticas que devem marcar o futuro”, reforçou a ex-provedora.

Marta Rebelo, que tinha por funções fazer recomendações, receber e tratar as queixas sobre a Casa dos Animais, criticou ainda o funcionamento “insustentável, disfuncional e auto-proclamatório de nadas” da autarquia, no que concerne ao canil/gatil municipal, e lamentou o “paternalismo demonstrado pela direção” da Casa dos Animais, a qual se tem mostrado “completamente ausente”.

São vários os exemplos citados do funcionamento “disfuncional” do canil/gatil municipal. Alguns têm nomes, como o Corujinha, um cão que contraiu uma doença no canil, “provavelmente uma parvovirose”, e que teria morrido há mais de um mês sem a intervenção da Polícia Municipal e de “um dado encarregado da Casa dos Animais”.

Outros são gatos: “não confio nas condições da ala do gatil”. Como exemplo, citou os quatro gatos que foram adoptados quando tinham uma doença que não fora detetada no gatil: contagiaram os 13 animais das famílias com que foram viver e morreram os 17. “Mas afinal, terá sido só panleucopenia”, denunciou Marta Rebelo.

“Análises de sangue é coisa que não vi ali sucederem. Nunca”, garantiu, salientando que as salas de quarentena são feitas de “fumos de palco” e as bactérias e vírus “se espalham gatil afora, e outras canil adentro”.

A demissão foi apresentada no sábado, mas só na terça-feira é que a jurista, que passou pelas Assembleias da República e Municipal de Lisboa (sempre pelo PS), publicou a carta no Facebook, como agradecimento às “pessoas dedicadas, amantes dos animais, que ali se encontram desamparadas na fama formada sem proveito de serem reais bestas”.

“Não abandono animais. Mas abandono pessoas e projectos que não são genuínos”, sustentou Marta Rebelo, que hoje se justificou à Lusa: “a emergência que está ali é de tal sorte, que não se compadece com grandes elaborações e compassos de espera, nem com umas obras que já pararam muitas vezes (por razões alheias à vontade municipal, na maior parte dos casos), mas que implicam agora um grande esforço e uma grande concentração de esforço de obra, para que as coisas mudem”.

“Infelizmente, não é só o tijolo que tem de mudar”, reforçou a ex-provedora: “e esse conjunto de coisas inviabilizou a forma como eu encaro, ou encarei, o exercício daquela missão”.

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