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Ocupantes contrariados e resignados abandonam parque de campismo da praia de Faro

No dia da tomada de posse do parque de campismo da praia de Faro pela Câmara Municipal, várias pessoas, contrariadas, mas resignadas, retiravam ainda os seus pertences de um espaço que vai ser requalificado para entrar em funcionamento em 2020.

Manhã cedo, ainda era muita a azáfama no espaço do parque de campismo, especialmente a dos que adiaram a retirada de caravanas, equipamentos de campismo e mobiliário para o último dia, num cenário com vários amontoados de lixo deixado pelos ocupantes.

As rulotes abandonadas estavam a ser desmontadas e o lixo recolhido pelas carrinhas da empresa municipal Fagar, num processo que se vai estender durante vários dias até o espaço estar completamente limpo.

José Lima, 68 anos, que tem casa na cidade de Faro, foi uma das pessoas que deixou arrastar o prazo para retirar os seus materiais de um local que lhe traz memórias desde há cinco décadas, quando, em 1968, ali acampou com mais quatro amigos.

“Não tive cabeça, perante aquilo que os meus olhos observavam, para retirar qualquer coisa. Quis deixar que viesse o dia 25 para não ver aqui a gente que vi. Abutres, ladrões, o caos instalado cá dentro. Refugiei-me, fechei-me, deitei algumas lágrimas. É triste terminar desta maneira”, disse à agência Lusa o professor aposentado, com as emoções estampadas no rosto.

“Acordámos tarde. Eu tentei acordar as pessoas cedo”, afirmou José Lima, considerando que a desocupação do parque de campismo poderia ter sido gerida de outra forma, uma vez que “não houve diálogo” entre a autarquia e a associação de utentes.

O professor aposentado, que desembolsava 78,30 euros mensais pelo seu espaço no parque de campismo, alega ter suspeitas de irregularidades sobre a gestão dos órgãos sociais da associação entre 2012 e 2018.

“Isto eram contas de mercearia, completamente. Tanto que há processos em tribunal. Inicialmente, combati-os sozinho e depois houve pessoas que se juntaram a mim e pusemos processos judiciais”, disse, esclarecendo que, neste momento, está em curso apenas um processo criminal.

Depois de ter encerrado ao público, em 2003, o parque de campismo continuou a ser utilizado por quem já lá estava, tendo passado, em 2010, para a gestão da associação de utentes, através de um contrato de comodato com a autarquia.

O município denunciou esse contrato em setembro de 2018, dando o prazo de um ano para o espaço ser desocupado, mas a associação apresentou, no passado mês de setembro, uma providência cautelar para tentar travar a saída, que foi considerada improcedente pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Loulé.

A tomada de posse pela autarquia foi acompanhada pelo presidente da Câmara de Faro, Rogério Bacalhau, que destacou a forma pacífica como os utentes estavam a abandonar o parque de campismo.

“É talvez o primeiro dia do início do projeto de requalificação deste espaço para que, no próximo ano, possamos ter aqui um verdadeiro parque de campismo acessível a todos, inclusivamente às pessoas que aqui estão”, sustentou.

O autarca revelou que as três pessoas que tinham residência principal no parque de campismo já estão a ser acompanhadas pelos serviços de Ação Social da autarquia, garantindo que serão “realojadas condignamente”.

Depois de efetuadas as obras, orçadas em 445 mil euros, com um prazo previsto de seis meses, o parque de campismo da praia de Faro contará com 200 lotes para tendas e 30 a 40 lotes para autocaravanas.

O espaço ficará sob gestão municipal e terá um regulamento próprio, que o executivo prevê levar no dia 02 de dezembro à reunião de câmara.

“Vamos ver se haverá condições para no próximo verão já termos o parque de campismo a funcionar. Vai depender muito do grau de execução e do empreiteiro. Vamos tentar, embora não o possamos garantir neste momento”, explicou Rogério Bacalhau.

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