Nas Notícias

Mãe com cancro enfrenta pesadas multas no trabalho

Cristina Nogueira é mãe de uma criança de 8 anos e foi, recentemente, operada a um cancro da mama com progressão no cérebro. Além da batalha que a doença a tem obrigado a enfrentar, esta advogada, de 46 anos, enfrenta agora um processo que lhe poderá custar 100 mil euros devido a atrasos no trabalho, no setor da justiça.

A vida não tem sido fácil para Cristina Nogueira. Entre sessões de quimioterapia e radioterapia, operações, exames e consultas, esta mulher de 46 anos vem travando uma das mais duras lutas na vida contra um raro cancro na mama, com progressão para o cérebro.

Operada nesta semana a uma metástase na cabeça, Cristina Nogueira batalha contra a doença e contra os 20 processos de contraordenação, por atrasos no desempenho das funções profissionais.

Não esquecendo o filho menor, que esta mãe divorciada tem a seu cargo, Cristina Nogueira poderá ser obrigada a vender a habitação para fazer face aos processos que a Comissão para o Acompanhamento dos Auxiliares da Justiça (CAAJ) lhe instaurou. Porquê?

Tudo porque esta doente oncológica tem atrasado as suas tarefas profissionais, que passam por ser administradora judicial em processos de insolvência de pessoas e empresas que correm nos tribunais.

Agora, de acordo com o que conta o jornal Expresso, a CAAJ tem vindo a notificá-la para o pagamento de cinco mil euros por cada um dos processos de insolvência que tem atrasado… devido à doença oncológica.

“Não é uma constipação, é cancro”

“Este processo da CAAJ é surreal. Uma coisa é ser punida por desviar dinheiro ou praticar atos ilícitos. Outra coisa é ser punida por gerar algum atraso no andamento dos processos por questões graves de saúde. Não é uma constipação, é cancro”, lamenta Cristina Nogueira, não compreendendo a situação e lembrando que nenhuma das empresas se queixou nem os Tribunais.

Ao jornal Expresso, Cristina Nogueira lembra ainda que na luta contra o cancro, que enfrenta desde 2016, sempre se tem mantido firme, apesar das dificuldades que a doença arrasta.

“Não tenho direito a baixa médica nem a qualquer subsídio da Segurança Social. Não tive alternativa que não fosse trabalhar para sobreviver.”

Mesmo durante as fases mais agressivas da doença, Cristina Nogueira explica que, desde casa, ia analisando o trabalho “mais urgente”.

A advogada não esconde, porém, que com tanto que lhe tem acontecido entrou num “processo de bloqueio emocional profundo, tendo procurado ajuda psiquiátrica”.

Agora, esta doente oncológica só espera que a justiça lhe seja feita e não deixe o filho desamparado.

“Gostava de poder morrer com a minha honra e dignidade incólumes, pois foi assim que sempre vivi a minha vida e são esses valores que tento passar ao meu filho.”

Da parte da CAAJ, contactada pelo Expresso, chegou uma resposta.

“A administradora judicial apenas foi notificada para pagamento voluntário de coimas eventualmente a aplicar, como decisão final dos processos”, explica esta entidade independente nomeada pela Assembleia da República.

A CAAJ sublinha ainda que a situação de saúde de Cristina Nogueira tem sido tida em conta.

“Em lugar de lhe poder ter sido aplicada a medida cautelar mais gravosa (suspensão preventiva do exercício de funções), atendendo aos fundamentos invocados e fundamentados relativamente à necessidade de continuar a auferir rendimentos para seu sustento e do seu agregado familiar, apenas lhe foi aplicada suspensão de inscrição nas listas oficiais de administradores judiciais.”

A verdade é que Cristina Nogueira continuará a sua luta contra a doença e… contra as burocracias da profissão.

Em destaque

Subir