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‘Irma’, porquê? Como são escolhidos os nomes dos furacões?

Andrew em 1992, Katrina em 2005, e, em 2017, Irma. Há uma razão para estes nomes terem sido atribuídos a estes furacões, da mesma maneira que poderão, ou não, ser atribuídos no futuro.

Os últimos dias têm sido marcados pela avalanche de notícias e destruição que o furacão Irma traz consigo. As ilhas de Anguilla, República Dominicana, St. Martin e de Antígua e Barbuda têm sido o rasto deixado para trás de forma bem visível, chegando inclusive a serem descritas como “quase inabitáveis” depois desta passagem.

O Irma já é considerado pelos meteorologistas como o segundo furacão mais forte registado na história do oceano Atlântico, mas foi primeiro a manter a intensidade dos ventos perto dos 300 quilómetros por hora durante 24 horas. No seu trajeto estão agora lugares como Cuba, Porto Rico e o sul do Estado americano de Flórida. Não é expectável que o furacão mantenha a mesma intensidade até lá, mas mesmo assim já está na companhia de outros fenómenos que se tornaram famosos pelo rasto de destruição que deixaram, como Andrew em 1992 ou Katrina, em 2005.

Mas, afinal, de que forma é que os nomes são atribuídos aos furacões e a outros ciclones tropicais?

A escolha por nomes de humanos – em vez de números ou termos técnicos – prende-se essencialmente com o facto de facilitar a memória destes nomes quando se divulgam alertas, evitando confusões.

A lista de nomes para os ciclones tropicais do Atlântico foi criada pelo Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC, na sigla inglesa), em 1953, e o seu sistema foi utilizado para as listas das outras regiões do mundo. Atualmente, estas listas são mantidas e atualizadas pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), a agência da ONU sediada em Genebra, na Suíça.

Ordem Alfabética

As listas dos furacões são organizadas anualmente por ordem alfabética, alternando entre nomes masculinos e femininos, ao passo que os nomes das tempestades tropicais variam de região para região.

Este ano, a partir de junho, os furacões e tempestades no Atlântico já passaram por Arlene, Bret, Cindy, Don, Emily, Franklin, Gert e Harvey até chegar ao Irma, Jose e Katia – duas tempestades que acabaram por se tornar em furacões.

Na zona do Pacífico, por exemplo, os nomes foram Adrian, Beatriz, Calvin, Dora, Eugene, Fernanda, entre outros.

As listas são ‘recicladas’ a cada seis anos, o que quer dizer que os nomes de Harvey ou Irma, por exemplo, podem voltar a aparecer em 2023. Nesse sentido, a OMM reúne-se anualmente para discutir os fenómenos mais devastadores dos anos anteriores e que, por isso, devem ver os seus nomes “esquecidos”.

Em 2005, o furacão Katrina deixou mais de 2 mil mortas em Nova Orleães, nos EUA, deixando por isso de ver o seu nome utilizado. Em 2011, ainda que menos intenso, foi a tempestade Katia – seguido de Harvey e Jose, que voltou este ano ao Caribe.

“Primeiro as senhoras”

O chefe do programa de ciclones tropicais da OMM, Koji Kuroiwa, diz que o Exército americano foi o primeiro a usar nomes de pessoas em tempestades durante a Segunda Guerra Mundial.

“Eles preferiam escolher nomes das suas namoradas, esposas ou mães. Naquela altura, a maioria dos nomes era de mulheres”, explica.

Para evitar desequilíbrios de género, os nomes masculinos foram adicionados à lista em 1970, num hábito de atribuição de nomes a tempestades que acabou por se tornar regra.

Os investigadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, realizaram um estudo, em 2014, onde afirmam que os furacões com nomes femininos matam mais pessoas que aqueles com nomes masculinos porque, normalmente, não são levados tão a sério e, consequentemente, há menos preparação para enfrentá-los.

O estudo, que analisou dados entre os anos de 1950 e 2012 e que foi divulgado na publicação científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), afirmou que cada furacão com nome masculino causa em média 15 mortes. Por sua vez, os que têm nome feminino provocam cerca de 42.

Kuroiwa explica que a utilização de nomes próprios faz com que as pessoas percebam os alertas mais facilmente, mas que o público pede muitas vezes para participar. A NHC foi obrigado a colocar no seu portal a questão “o meu nome pode ser atribuído a um furacão?” de forma a explicar às pessoas que os nomes são estabelecidos por um comité internacional.

Regiões

No século XIX, na era vitoriana da Grã-Bertanha, eram dados nomes aleatórios às tempestades. O furacão de Antje, em 1842, foi chamado assim por ter destruído o mastro de um barco com esse nome.

Um meteorologista australiano dessa época, Clement Wragge, divertia-se a atribuir aos furacões nomes de políticos dos quais não gostava. No Caribe, por exemplo, já foram utilizados nomes em homenagem aos santos católicos dos dias em que eles atingiam as cidades.

Hoje em dia os nomes mudam consoante a região do ciclone.

“No Atlântico e no Pacífico Este usam-se nomes reais de pessoas, mas há convenções diferentes em outras partes do mundo”, esclarece à BBC Julian Heming, cientista de previsões tropicais no Met Office, escritório britânico de meteorologia.

“O importante é ser um nome que as pessoas se lembrem e identifiquem. Antes usavam-se nomes em inglês para esta região, mas há dez anos decidiu-se que deveriam começar a usar nomes mais apropriados para a região”, explica.

Neste ano, o Irma chega aos Estamos Unidos, mas Quincy pode aproxiar-se da Austrália, Kenanga da Indonésia e Viyaru poderia, ainda, atingir a Índia.

Há algumas letras que não são utilizadas na lista de tempestades do Oceano Atlântico face à escassez de nomes próprios que existem com elas. Mas o que acontece se a lista acabar?

Heming responde: “Se o resto da época tiver muita atividade, temos que usar letras do alfabeto grego”.

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