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Incêndio de Monchique podia ter ficado contido ontem, denuncia especialista

O incêndio de Monchique podia ter sido contido ontem, frisou Xavier Viegas, especialista em incêndios florestais. Tal não aconteceu porque não foram criadas faixas de contenção, previstas desde 2006, nem usados produtos químicos para evitar os reacendimentos.

O incêndio que deflagrou na sexta-feira em Monchique, no distrito de Faro, já atingiu uma área superior a 17 mil hectares, tendo provocado 29 feridos ligeiros e um grave.

Admitindo que tem acompanhado à distância o combate ao fogo, Xavier Viegas lamentou, em declarações à Lusa, que o plano de prevenção, desenhado há mais de uma década, tenha ficado por acabar e que, neste momento, não estejam a ser usadas ferramentas que permitem um ataque mais eficaz, como o uso de produtos químicos.

“Para evitar reacendimentos, utilizam-se técnicas como o emprego de produtos químicos”, disse, explicando que esses produtos se misturam com a água que é lançada pelos aviões e helicópteros fazendo consolidar o rescaldo.

O investigador de Coimbra sublinha que os reacendimentos “já estão identificados como um dos grandes problemas, que depois dão origem a incêndios ainda piores (…) que se prolongam mais do que o necessário”.

O incêndio de Monchique foi dado como controlado na segunda-feira, “mas as coisas têm-se complicado e hoje está outra vez fora de controlo em vários setores”, referiu.

O custo dos produtos químicos é a única razão que Xavier Viegas encontra para não estarem a ser utilizados: “Custará algum dinheiro, mas é largamente compensado com a economia que se pode ter com a redução das horas de combate, em especial nas horas dos meios aéreos”, sublinhou, lembrando ainda os efeitos nefastos de um terreno ardido.

Xavier Viegas criticou também a falta de prevenção, lembrando um projeto de 2006 que desenhou uma rede primária de faixas de contenção.

A ideia era criar faixas em zonas estratégicas da floresta, cortando por completo a vegetação ao ponto de criar zonas com 125 a 150 metros de largura.

As faixas iriam “evitar ter extensões muito grandes de floresta contínua e ter alguma contenção” quando houvesse um incêndio, explicou, acrescentando que, sem estas faixas, “não há condições para combater e circunscrever os incêndios”.

Foi precisamente na sequência dos incêndios de 2003 e de 2005, que o Algarve foi considerado uma zona prioritária de prevenção e, “pelo menos desde 2006, o Estado tem um projeto de faixas de redes primárias” para todo a região.

No início, foram executadas algumas faixas, mas a determinada altura o plano passou para as mãos das autarquias e “não houve, da parte dos municípios, sensibilidade para completar esse plano”, assim como não houve da parte dos organismos governamentais “capacidade e vontade para tutelar e regular esse trabalho”, apontou.

O resultado é que “na maior parte do país, esses planos não estão a ser executados” e o Algarve não é exceção: “Quando, em 2012, estudámos os incêndios de Tavira verificámos que apenas uma pequeníssima parte do plano estava executado. O que é inaceitável”, defendeu.

Para Xavier Viegas “bastava que o plano de 2006 estivesse em execução ou estivesse já feito e as condições seriam bem melhores”.

Perante este cenário, o especialista de Coimbra critica “o exemplo que o Governo está a dar aos portugueses na tarefa de prevenção” dos incêndios.

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