Quando o Governo diz “nós protegemos os mais pobres”, está na verdade a impedir “a passagem da pobreza para a classe média”, critica Pacheco Pereira. É um discurso “demagógico” de quem ‘avariou’ o “elevador social” com “uma visão assistencial da pobreza”.
Pacheco Pereira afirmou que quem é pobre deixou de ter esperanças em ascender à classe média, culpando o discurso “demagógico” do Governo.
“O elevador social que garantia a classe média, retirando as pessoas da pobreza, está quebrado por uma visão assistencial da pobreza”, argumentou o comentador político, ao intervir na conferência “25 de Abril: Liberdade e Cidadania”, realizada no âmbito da 2.ª Semana da Comunicação Social organizada pela Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal.
A culpa, segundo Pacheco Pereira, está no modelo “assistencialista” com que o atual Governo, da maioria PSD (no qual está filiado) e CDS-PP, enfrenta o drama social em que Portugal se encontra.
“A pobreza deixa de ter esperança de passar acima da pobreza”, reforçou o antigo deputado ‘laranja’.
“Demagógico”
Na intervenção, Pacheco Pereira criticou o processo de “ataque à classe média” em curso e que aposta no corte dos rendimentos para transformar o país numa economia de baixos salários.
“O discurso, muitas vezes demagógico, do actual Governo, é ‘nós protegemos os mais pobres!’. Num certo sentido é verdade, mas a verdade é que protegendo os mais pobres na sua pobreza impede que haja qualquer diminuição da pobreza e, acima de tudo, a passagem da pobreza para a classe média”, justificou o historiador.
“Este ataque à classe média”, insistiu Pacheco Pereira, “é extremamente preocupante para o futuro do país, porque se traduz, entre outras coisas, numa quebra das qualificações da população portuguesa”.
Perante os alunos do Politécnico de Setúbal, o comentador político antecipou o cenário: “isso significa que os fatores estruturais do nosso atraso, mesmo no plano económico, ou até em primeiro lugar no plano económico, fazem com que a única vantagem competitiva para o futuro sejam os salários baixos”.
“Com salários baixos, nenhuma empresa inova”, alertou.
“Como era antes”
Mas o tema da conferência era o enquadramento da “Liberdade e Cidadania” no antes e no depois da ‘revolução dos cravos’.
“Para quem viveu antes do 25 de Abril com alguma consciência da realidade, o dia 25 de Abril é o dia mais importante da sua vida”, afirmou Pacheco Pereira, afirmando-se como exemplo: “o 25 de Abril foi o dia mais importante da minha vida porque eu sei muito bem como era antes e como foi depois”.
“Guerra da dívida”
Na mesma conferência esteve Manuel Martins Guerreiro, almirante que integra a Associação 25 de Abril.
“A dívida é a nova forma de guerra, um instrumento de submissão dos povos”, alertou o almirante, servindo-se como exemplo de fenómenos sociais como o aumento da emigração.
O triunfo nesta “guerra”, segundo Manuel Martins Guerreiro, depende da própria população do país, que tem de exercer uma cidadania que obrigue os decisores políticos a assumirem as consequências das medidas que aplicam.