As células estaminais do coração têm o poder de prevenir malformações e tratar doentes que padeçam de insuficiências cardíacas, revela estudo levado a cabo por João Ferreira-Martins, investigador português da Faculdade de Medicina do Porto.
Segundo o investigador João Ferreira-Martins, as células estaminais que se encontram no coração podem prevenir malformações deste órgão durante o crescimento e tratar pacientes com insuficiência cardíaca.
O trabalho, a que a Lusa teve hoje acesso, explorou duas questões: qual a origem embrionária das células estaminais cardíacas e que mecanismos regulam a sua ativação durante o desenvolvimento embrionário.
Os resultados da investigação demonstraram que “estas células são ‘criadas’ dentro do coração e possuem as propriedades fundamentais das células estaminais, que as tornam tão promissoras, como a capacidade de se auto-renovarem e de se ‘transformarem’ em diferentes tipos de tecido cardíaco”.
Mas mais do que perceber de onde vêm estas células e que propriedades têm, João Ferreira-Martins descobriu um mecanismo que permite manipulá-las, tornando-as num instrumento para o tratamento de doenças como a insuficiência cardíaca e malformações no coração.
“Descobrimos que a cinética do cálcio tem a capacidade de promover a proliferação e diferenciação dessas células. Por isso, podemos retirar células estaminais cardíacas de um doente adulto e manipulá-las em laboratório, imediatamente antes de voltar a injectá-las no doente”, explicou o cientista.
O objetivo é que essas células reparem o tecido cardíaco danificado, processo que “será mais eficaz se estas forem previamente estimuladas a proliferar e a diferenciar”.
“No fundo, a descoberta deste mecanismo permite-nos levá-las a fazerem aquilo para que estão predestinadas. Só lhe damos um empurrão”, sustentou.
O trabalho de João Ferreira-Martins já lhe valeu a atribuição de um prémio por parte da Sociedade Americana de Insuficiência Cardíaca.
A terapia com células estaminais cardíacas está a ser testada em vários ensaios clínicos nos Estados Unidos. Um grupo da Universidade de Harvard que o cientista português integra está a estudar a sua eficácia em pacientes adultos que foram operados devido a insuficiência cardíaca crónica.