Ciência

Biólogos recuperam habitats naturais nas Berlengas

Peniche, Leiria, 15 jun 2019 (Lusa) – Uma equipa de biólogos esteve a remover espécies invasoras e a instalar ninhos artificiais na Reserva Natural das Berlengas nos últimos cinco anos para, a par do controlo de visitantes, haver uma gestão mais sustentável do espaço.

“Conseguimos aproximar a ilha àquilo que era antes da chegada do ser humano e dos problemas associados a essa chegada, com uma biodiversidade mais assegurada e com maior probabilidade de se manter no futuro”, refere à agência Lusa a bióloga Joana Andrade, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e coordenadora do projeto “Life Berlengas”, que termina este mês.

Os investigadores implementaram medidas para minimizar as ameaças que estavam a afetar a fauna e flora naturais desta área protegida: a existência de “espécies não nativas, o crescente impacto do turismo desregrado e a forte pressão piscatória”, conclui o relatório dos cinco anos de trabalho, a que a Lusa teve acesso.

O efetivo de gaivotas foi controlado, através da destruição dos ovos, passando de 90 mil no final do século XX para as atuais 13 mil.

A redução contribuiu para o crescimento de espécies como as armérias, vegetação cujos tufos as gaivotas transformam em ninhos, destruindo-as.

Os ratos pretos (cerca de três mil) e os coelhos (podiam ser mais de uma centena) que se alimentavam de vegetação nativa da ilha foram eliminados, tendo os últimos sido avistados no final de 2018.

Também 90 por cento do chorão, vegetação que cobria grande parte das falésias da ilha da Berlenga, foi removido, para permitir o crescimento de vegetação endémica.

Ao mesmo tempo, foram instalados ninhos artificiais para incentivar a nidificação de aves marinhas nativas, como a cagarra e o roque de castro.

Com a redução de gaivotas e o fim dos ratos, que até então comiam ovos e crias, várias aves marinhas passaram a ter melhores condições para nidificar, como foi o caso do roque de castro, que nidificou e teve a sua primeira cria no último inverno.

Os investigadores sensibilizaram ainda os pescadores e foram introduzidas modificações nos anzóis e nas artes de pesca para minimizar as capturas acidentais de alcatrazes, cagarras, galhetas e corvos marinhos pelos pescadores.

“Se deixarmos muito tempo a arte na água após a largada, apanha muitos pássaros. Para que isso não aconteça, largamos os caranguejos pilados para evitar capturar os pássaros”, explica à Lusa Pedro Jorge Nunes, um dos pescadores da ilha.

Nos últimos cinco anos, foi também criado um centro de visitantes e instalada sinalética ao longo da ilha, dando ao visitante mais informação, consciencializando-o para a preservação do património natural e contribuindo para uma maior compatibilização entre turistas e valores naturais.

Apesar de o projeto estar a terminar, muito há a fazer.

As prioridades, aponta a bióloga, deverão ser “tornar a ilha sustentável em termos energéticos, abandonando recursos à base de combustíveis para fornecimento de eletricidade, instalar sistemas de tratamento dos esgotos e melhorar o tratamento dos resíduos, incentivando os próprios visitantes a levarem o seu lixo de volta para Peniche”.

O projeto teve como parceiros a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, a Câmara Municipal de Peniche, a Universidade Nova de Lisboa e a Escola Superior de Tecnologia e do Mar do Instituto Politécnico de Leiria.

O investimento de 1,3 milhões de euros foi financiado pelo Programa LIFE+ da União Europeia e pelo Fundo Ambiental.

O arquipélago, no distrito de Leiria, foi classificado em 2011 como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), em 1997 como sítio da Rede Natura 2000 e em 1999 como Zona de Proteção Especial para as Aves Selvagens. Tem ainda estatuto de reserva natural desde 1981.

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