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Aleixo dos pobres em morte lenta com implosão da torre 5, o embrião do Aleixo dos ricos

bairro_aleixo1O Aleixo dos pobres cai a partir de hoje, com a implosão da torre 5 do bairro, e dá lugar ao Aleixo dos ricos, com habitações que poderão custar 600 mil euros, numa zona nobre do Porto. É o cumprimento de uma promessa do presidente da Câmara Municipal, Rui Rio, num negócio que envolve Vítor Raposo, empresário investigado em processos relacionados com o ex-deputado do PSD, Duarte Lima. Oito segundos bastam para destruir décadas.

A torre 5 do Baixo do Aleixo é implodida ao final da manhã de hoje, num processo de transformação do bairro num condomínio de luxo. A evacuação do bairro está em curso e cerca de 500 moradores terão de abandonar o perímetro de segurança definido pelas autoridades.

Numa operação delicada, cerca de 150 quilogramas de explosivos colocados em diferentes pisos: nos três primeiros e no oitavo. No total, 509 pessoas do Aleixo e da Rua da Mocidade da Arrábida tiveram de sair de casa.

Há cerca de 45 dias, deu-se início ao processo de demolição, com a retirada de janelas e caixilharias do edifício. A torre 5 ficou reduzida ao cimento, num cenário que provocou nostalgia aos moradores. Alguns não quiseram sequer olhar o processo de preparação da implosão, manifestando a dor que sentem ao ver o Bairro do Aleixo demolido por razões que se prendem com a sua excelente localização.

Vítima da especulação imobiliária e do elevado valor dos terrenos onde se situa, o Aleixo desce à terra para dar lugar a um condomínio de luxo. A degradação do bairro e a criminalidade – comuns a tantos outros espaços habitacionais do género, na cidade do Porto e não só – suscitaram o deflagrar dos engenhos explosivos que matam o Aleixo. A torre 5 representa o primeiro de cinco capítulos de um fim que deixa mágoa.

Os 13 pisos caem em poucos segundos. Oito, apenas. Depois, caem lágrimas, mais devagar, e ergue-se o pó, levantado do chão, a trespassar as fronteiras do perímetro de segurança, que tem o espaço equivalente a 10 campos de futebol.

Desde as 8h30, esse perímetro é zona interdita. A demolição do bairro conhece assim o primeiro capítulo, que representa também o cumprimento de uma promessa eleitoral de Rui Rio, em 2009: demolir o Bairro do Aleixo.

No dia em que assinala o décimo ano à frente dos destinos da Câmara do Porto, Rui Rio vê cair a primeira torre, perante o protesto dos moradores, alguns dos quais com um passado ligado ao Aleixo e com o sentimento de dor, por uma ordem de despejo de razões dúbias.

O Porto é uma das cidades com maior número de bairros, em todo o país. Alegar que o Aleixo merece ser demolido em nome do fim de um espaço onde reina a criminalidade é uma tese que não vinga. Rio, que levou a cabo um projeto de requalificação de todos os bairros portuenses, decidiu apagar do mapa o Aleixo, porque os terrenos são excessivamente valiosos para acolher habitação social.

Junto à marginal do rio Douro, onde se situa o Bairro do Aleixo, vão nascer cinco novos edifícios de oito andares, com 120 apartamentos. Os preços mais altos de algumas destas novas habitações situam-se perto dos 600 mil euros.

O negócio tem uma particularidade: 23 por cento do fundo imobiliário em que assenta o novo projeto é detido por Vítor Raposo, empresário que está a ser investigado em processos que envolvem o ex-deputado do PSD, Duarte Lima, e o seu filho, Pedro Lima.

A torre 5 cai, perante a mágoa de quem deixa o seu lar. Nascerão novos lares, num bairro de luxo, que permitirá lucros gigantescos.

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