Ciência

As bactérias têm visão? Os cientistas dão-lhe a resposta

Uma equipa de cientistas britânicos decifrou um mistério relacionado com a ‘visão’ das bactérias, que captam a luz e determinam o seu caminho, como se o organismo tivesse a faculdade humana de ver. Uma equipa de cientistas britânicos decifrou um mistério relacionado com a ‘visão’ das bactérias, que captam a luz e determinam o seu caminho, como se o organismo tivesse a faculdade humana de ver. O estudo, que contou com a participação portugueses e alemães, foi publicado na revista eLife.

As bactérias comportam-se como se tivessem um olho humano, o que levou os cientistas a um aprofundado estudo, para esclarecer este mistério.

Uma equipa de biólogos da Universidade Queen Mary, em Londres, partiu para a investigação de uma bactéria unicelular, que se pode encontrar nos lagos. E encontrou as respostas.

A cianobactéria, incluindo a espécie Synechocystis utilizada nesta pequisa, é um organismo muito antigo e abundante, que se encontra na água e consegue energia através do processo de fotossíntese.

Em primeiro lugar, os investigadores observaram de que forma os raios de luz atingiam a superfície esférica da bactéria e qual a reação do micróbio: ele movia-se na direção do foco de luz.

O que intrigava os investigadores era o facto de se tratar de um micro-organismo com apenas 0,003 milímetros de diâmetro.

“As bactérias conseguem detetar a origem da luz. E temos provas desse facto porque ela move-se na direção da luz. E isto deixou-nos intrigados, porque se tratam de células extremamente pequenas”, explicou Conrad Mullineaux, investigador daquela universidade londrina, em declarações à BBC.

Não obstante ter esta dimensão minúscula, os tais 0,003 milímetros, a bactéria recorre aos mesmos mecanismos físicos do olho humano. Assim, os cientistas concluem que a bactéria é, “provavelmente, o mais pequeno e mais antigo exemplar de uma lente”.

Com recurso a um microscópio, os investigadores observaram, “por acidente”, que as células apresentavam este comportamento.

“Colocámos células numa superfície e direcionámos luz para um dos lados delas. E observámos o movimento”, realça Conrad Mullineaux.

Até que, de forma inesperada, os investigadores observaram essses  pontos de luz focados no outro extremo da célula”.

“Imediatamente comprovámos o processo incrível. É inacreditável como – em mais de três séculos de análises a bactérias e outros micro-organismos – ninguém tenha  descoberto isto antes”, afirma o cientista.

O passo seguinte foi avançar na compreensão desta ‘visão’ do organismo unicelular. E para o efeito Conrad Mullineaux trabalhou em parceria com cientistas britânicos, portugueses e alemães.

Com recurso a laser, foi analisada a capacidade daqueles seres microscópios em focar a luz e perceber de que forma diferentes tipos (e intensidades) de luz afetam o comportamento da bactéria.

As bactérias moviam-se na direção de uma luz, quando o foco era projetado para a parte de trás da sua célula. No entanto, assim que se cruzavam com um foco de luz mais forte, as bactérias alteravam a sua direção.

“Quando o laser atingia um lado da célula, as bactérias seguiam para o outro e mudavam de direção. Em circunstâncias normais elas deveriam mover-se em direção à luz, mas seguiam no sentido oposto”, descreve Mullineaux.

Os investigadores concluem que que uma menor quantidade de luz permite à bactéria ter uma “visão a 360 graus”.

Estas conclusões podem, eventualmente, ser aplicadas noutros micro-organismos semelhantes, mas são necessários mais estudos para compreender como se comportam.

“Este era um mecanismo que nos estava a faltar. É uma prova surpreendente”, realça Gaspar Jekely, do Instituto de Biologia Evolucionária Max Planck, na Alemanha, em declarações à BBC.

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