O Sindicato dos Trabalhadores de ‘Call Center’ (STCC) convocou uma greve a partir de hoje para exigir teletrabalho para todos estes profissionais, “sem qualquer perda de rendimentos”, em pleno surto de covid-19.
“A situação geral nos ‘call-center’ é caótica. A maior parte dos locais de trabalho não teve qualquer preparação, o que os torna potenciais focos de contágio”, alertou a entidade, num comunicado, no dia 20 de março.
Para aumentar a pressão sobre as empresas, o STCC resolveu “convocar greve geral” nos ‘call-center’ a partir de hoje, defendendo que “as entidades patronais só vão acelerar a transição para teletrabalho se virem as linhas de atendimento paralisadas e os seus lucros afetados”.
Segundo o STCC, mesmo nos casos em que foram aplicadas medidas de contingência, estas “são insuficientes”.
“A ansiedade e o medo são o dia-a-dia de todos os trabalhadores. Em muitos casos, as chefias são as primeiras a ir para casa em regime de teletrabalho, ficando os trabalhadores a laborar em condições que já normalmente são insalubres e que na conjuntura atual potenciam o contágio a um nível inaceitável”, lamentou o sindicato.
O STCC deu ainda conta do panorama atual nestas empresas.
“Ainda há muitos ‘call-center’ em que trabalhadores estão uns em cima dos outros sem qualquer distanciamento, os espaços são poucos e de curta dimensão, os espaços de refeição estão cheios, as casas de banho são poucas face ao elevado número de trabalhadores, os elevadores andam lotados em edifícios que chegam a ter mais de 10 andares, há falta de limpeza, falta gel desinfetante (muitas vezes são os trabalhadores que de sua iniciativa levam material de limpeza) e sabonete nas casas de banho, as portas internas estão fechadas obrigando a usar as mãos para entrar e sair”, relatou.
O sindicato disse mesmo que “trabalhadores e clientes vindos de países fortemente afetados pela pandemia não são monitorizados e estão misturados com a restante força de trabalho”, e que em alguns locais os profissionais “continuam a não estar diariamente num posto de trabalho fixo, sendo forçados a ‘dividir’ o manuseamento de computadores e de equipamentos entre si”.
O sindicato sublinhou que é “necessário que seja feita legislação específica para os ‘call-center'” e exigiu que “o Governo legisle no sentido de garantir que todos os trabalhadores de ‘call-center’ sejam colocados em regime de teletrabalho, sem qualquer perda de rendimentos”.
“O Governo deve igualmente garantir que, até que todos estejamos em regime de teletrabalho, os trabalhadores de ‘call-center’ que não prestem serviços essenciais (por exemplo no INEM ou no SNS24) sejam colocados em casa com salário completo. É preciso reforçar que não pode recair sobre os trabalhadores a responsabilidade de garantir os meios técnicos para a transição – algo que a legislação já prevê, mas que os empregadores não cumprem”, alertou o STCC.
A Associação Portuguesa de ‘Contact Centers’ (APCC), por seu turno, já garantiu que a grande maioria dos ‘contact centers’ está a recorrer ao teletrabalho para proteger os seus trabalhadores da pandemia covid-19.
“Os ‘contact centers’ que integram a APCC já acionaram planos de contingência para fazer face ao surto do novo coronavírus (Covid-19) e a grande maioria já está mesmo a recorrer ao teletrabalho”, como a BlissNatura, a Cetelem, os CTT, a GS1, a RHmais e a SIBS Processos, indicou, em comunicado divulgado recentemente, a associação.
Os trabalhadores podem optar pelo regime de teletrabalho aprovado no âmbito das medidas excecionais relacionadas com a covid-19 sem que seja necessário o acordo do empregador, desde que a prestação à distância seja compatível com as suas funções, segundo legislação publicada pelo Governo.
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