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Sofreu a pena de morte com 14 anos e é inocentado 70 anos depois

O mais jovem condenado à morte nos EUA estava inocente. Foram precisos 70 anos para a justiça anular a condenação, embora George Stinney Jr. tenha sido executado. A sentença de 1944 foi anulada, mas a família exige que o tribunal reconheça ter cometido um erro.

Em 1944, George Stinney Jr., um adolescente negro de 14 anos, entrou para a história dos EUA como o mais jovem condenado à morte. Foi executado nesse mesmo ano, apesar de estar inocente.

Coube à juíza Carmen T. Mullen assumir que o julgamento de 1944 foi “uma grande injustiça” para com o adolescente, que foi o mais novo executado nos EUA em todo o século XX.

A família nunca desistiu de procurar inocentar Stinney Jr., que foi condenado à morte pelo homicídio de duas meninas brancas. A sentença, refira-se, foi proferida por um júri composto exclusivamente por pessoas brancas.

Sem se pronunciar sobre a sentença de 1944, a juíza Carmen T. Mullen criticou o modo como o arguido foi julgado. O adolescente poderá ter sido coagido a confessar o crime numa altura em que ainda havia uma forte segregação racial, tanto mais que foi interrogado por polícias brancos numa cidade (Alcolu) com grande discriminação racial.

Um interrogatório feito a um menor sem a presença dos pais, nem sequer de um advogado: os únicos adultos eram os polícias (brancos), que afirmaram que o adolescente confessou ter matado Betty June e Mary Emma como retaliação por ambas terem negado os seus avanços sexuais.

A isto se acrescenta o facto da detenção para interrogatório ter sido efetuada sem a presença dos pais: em março de 1944, os agentes levaram Stinney Jr e o irmão mais velho (Johnnie) algemados, isto sem a presença de qualquer adulto que pudesse testemunhar a legalidade da detenção.

O advogado nomeado pelo Estado para defender o arguido “nada ou quase nada” fez para o conseguir, isto perante um júri que não assegurava os direitos de um negro (devido a ser formado exclusivamente por brancos), apontou ainda a magistrada.

A 24 de abril de 1944, após duas horas de sessão, a deliberação foi tomada em apenas dez minutos. George Stinney Jr. foi condenado à morte, na cadeira elétrica, pelo homicídio das duas meninas brancas.

O advogado nem se dignou a apresentar recurso e, a 16 de junho, o adolescente foi executado. Enquanto esperou no corredor da morte, garantiu sempre que estava inocente, segundo os companheiros de cela.

Os jornais da época referem que o condenado era tão pequeno que foi necessário colocar livros sobre a cadeira elétrica, concebida para executar adultos.

A juíza Carmen T. Mullen não teve dúvidas: George Stinney Jr. não teve direito a um julgamento justo, pelo que a condenação é anulada, mesmo que já tenham passado 70 anos.

A decisão da magistrada surge agora, décadas depois da execução, porque a família de Stinney Jr. nunca desistiu de lutar pela inocência do adolescente.

O arguido tornou-se no principal suspeito porque tinha sido a última pessoa a ver com vida Betty June Binnicker, de 11 anos, e Mary Emma Thames, de 8, encontradas espancadas e mortas junto a uma linha férrea.

Mas nessa altura Stinney Jr. estava acompanhado pela irmã, Amie Ruffner, que nunca foi interrogada.

“Procuravam alguém para culpar”, afirmou Amie Ruffner, agora com 77 anos, acrescentando que o irmão “foi usado como bode expiatório”.

O álibi nunca foi tomado em consideração durante o julgamento de 1944, factor que também pesou na decisão da juíza Carmen T. Mullen.

Apesar da magistrada ter anulado a condenação, a família de Stinney Jr. quer mais: exige que a justiça admita que falhou.

“Há uma diferença: o perdão [da condenação] é dado por algo feito” e não por erros judiciais, argumentou a sobrinha do (então) adolescente, Norma Robinson.

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