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Sisa, a droga da austeridade

A crise económica trouxe dificuldades para todos nós mudando tudo e todos, muito provavelmente para sempre. Em tempos de Natal é hábito o discurso aligeirar e os temas serem mais leves, harmoniosos e de acordo com a época. Pois tenho a dizer-vos que vou contrariar um pouco a regra apresentando um tema muito sério e complexo. Falemos então de droga e de como aqueles que a consomem foram levados pela crise a consumir a sisa.

No centro de Atenas muitos toxicodependentes que até há bem pouco tempo estavam habituados a consumir crack para se sentirem estimulados e autoconfiantes estão agora a adaptar-se à crise. Começaram a aderir a uma nova substância que (para o que interessa) tem o mesmo aspecto e o mesmo resultado, mas que dura muito mais e que custa dez vezes menos (entre os cinco e os seis euros por grama). A sisa, nome pelo qual se tornou conhecida entre os traficantes e consumidores, está a ser fumada na rua, em plena luz do dia, com uns cachimbos de vidro muito fino e desde que foi detectada pelas autoridades passou a ser rotulada como a “droga da austeridade”.

Vendida sob a forma de cristais, tal como o crack, a sisa é na realidade uma droga feita à base de metanfetamina (uma substância estimulante sintética inventada no Japão e que se tem mantido praticamente ausente da Europa) circunscrita apenas a alguns países de Leste, como a República Checa, apesar de ser tão antiga como a cocaína.

A verdade é que a sisa é uma versão low cost, ou seja de pior qualidade, da metanfetamina que costuma circular como meth ou ice nos Estados Unidos, onde tem sido associada a casos de violência e a violações. E em Atenas o consumo de sisa tem subido vertiginosamente desde o início de 2013. Está inclusivamente a ser adoptada por toxicodependentes em fim de linha, muitos deles também consumidores de heroína e que já não encontram forma de arranjar dinheiro para continuarem com os seus antigos hábitos.

Ainda é um mistério como é que esta droga apareceu na Grécia embora algumas teorias apontem para que a sua produção esteja a ser realizada na China. Em parte, porque é uma droga popular na Ásia e muitas das novas substâncias sintéticas que têm inundado a Europa nos últimos anos vêm de fábricas chinesas. Além disso os primeiros consumidores a serem detectados na Grécia (no final de 2011) eram imigrantes asiáticos. Quanto a números, segundo o último relatório produzido pelo Instituto Universitário de Investigação de Saúde Mental (UMHRI) sobre esta droga, em 2012, revela que num total de 48 casos de toxicodependentes do centro de Atenas, houve cinco relatos de mortes associadas ao consumo diário de sisa. São também referidas situações de agressões originadas pelo seu efeito eufórico, em paralelo com estados de alucinação, ansiedade e insónias prolongadas.

Ainda não existem certezas sobre até que ponto a “droga da austeridade” é destrutiva, mas acumulam-se testemunhos que dão conta de problemas cardíacos e psiquiátricos (incluindo esquizofrenia) além de úlceras na boca, no nariz, nos intestinos e de lesões na pele.

Para já não há sinais de presença de sisa em Portugal, mas obviamente que tal pode muito bem acontecer de um dia para o outro. A crise trouxe profundas mudanças em todas as áreas, e esta não é excepção. Este é um assunto tão sério e complexo quanto importante e pouco discutido. Apenas investigando e discutindo este assunto é que podemos, primeiro, perceber o seu verdadeiro impacto (e as suas consequências) e, segundo, perceber como o erradicar.

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