Pela quinta vez em menos de um ano, um lobo ibérico morreu por ação intencional de um humano. A vítima foi encontrada em Vila Nova de Paiva com ferimentos de tiros de caçadeira, disparados à queima-roupa, que não deixam “dúvidas sobre a intencionalidade do crime”, como referiram 12 organizações num comunicado conjunto: “trata-se de mais um ato de perseguição deliberada, tendo o animal sido abatido e abandonado no local”.
O comunicado conjunto surge cerca de seis semanas depois do abate da Bragadinha, uma fêmea de lobo ibérico morta a tiro no Gerês. Na altura, foram dez organizações a emitir uma nota conjunta a exigir “às autoridades competentes, nomeadamente ao ICNF, ao SEPNA/GNR e em especial ao Ministério Público, uma ação urgente e contundente” nestes casos.
Agora, são 12 as organizações que criticam a “passividade” das autoridades em permitir este “clima de impunidade”. “O lobo ibérico é uma espécie ameaçada e protegida por lei, cuja proteção é um dever inalienável do Estado Português e cuja perda empobrece toda a sociedade”, sustentam.
Os signatários recusam-se a “assistir de braços cruzados ao desaparecimento sistemático do nosso último grande carnívoro”, mas lamentam que os crimes sejam cometidos sem consequências: “desde há um ano, este é já o quinto ato criminoso do género que se tem conhecimento, juntando-se à morte de quatro lobos na população a norte do Douro: três a tiro e um vítima de laço. Destes quatro casos recentes, apenas um resultou em acusação judicial com aplicação de uma multa irrisória, não tendo havido quaisquer acusações ou penalizações legais nos restantes”.
Foi a cinco de novembro que Helena Rio Maior, a bióloga responsável pelo Projeto de Investigação e Conservação do Lobo no Noroeste de Portugal (do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto), comunicou ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICFN) o abate da Bragadinha (na foto).
“É o segundo caso de morte de um lobo ibérico por causas humanas em menos de um ano na mesma reserva”, explicara, na altura, Helena Rio Maior. A Bragadinha era “a única fêmea reprodutora naquela alcateia”, tivera crias “no final de maio” e era monitorizada, através de um colar GPS, desde 2012.
O lobo ibérico está classificado como espécie em perigo e é protegido por lei desde 1988. O censo mais recente, realizado entre 2002 e 2003, apurou a existência de cerca de 300 exemplares, distribuídos por 65 alcateias que vivem, na maioria, em três núcleos: Peneda-Gerês, Bragança/Montesinho e Vila Real/Alvão.O colar GPS permite determinar a posição do animal a cada duas horas, desde que o lobo use sete localizações diferentes.
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