O mundo enfrenta a maior epidemia de uma infeção viral sem cura: o Ébola. Na altura em que começam a surgir os primeiros tratamentos experimentais, a Organização Mundial de Saúde (OMS) depara-se com um dilema ética: como ‘escolher’ quem serão os primeiros pacientes a tratar com medicamentos cujo sucesso ainda não foi comprovado?
Depois de elevar o surto de Ébola que surgiu na África ocidental ao estatuto de “emergência de saúde pública de caráter mundial”, a OMS agendou para hoje uma reunião sobre a “ética” dos tratamentos experimentais, nomeadamente visando os novos medicamentos para uma doença que, até ao momento, é incurável.
A título de exemplo, refira-se que nos EUA há infetados a receberem um tratamento experimental à base da transfusão sanguínea, recebendo sangue de antigos infetados que sobreviveram ao vírus. Não há qualquer estudo científico que valide a eficácia destas transfusões.
Daí que a OMS debata, durante o dia de hoje, a ética subjacente aos tratamentos experimentais, com especial ênfase nos doentes ‘escolhidos’ para receber a medicação inovadora.
A assistente do diretor-geral da OMS, Marie-Paule Kieny, enuncia algumas das questões em análise: “É ético utilizar medicamentos não autorizados para tratar as pessoas? Em caso afirmativo, que critérios devem cumprir? Em que condições? Quem deve ser tratado?”
O caso mais mediático é o do ZMapp, um medicamento experimental cujos resultados nos testes têm sido promissores: só que em macacos.
Ainda assim, o fármaco, desenvolvido pela empresa norte-americana Mapp Pharmaceuticals, tem sido dado a um padre espanhol e a dois norte-americanos infetados com o vírus quando tratavam de doentes, em África.
No encontro de hoje marcam presença médicos, virulogistas e vários especialistas de saúde pública.
As conclusões necessitam de ser obtidas com caráter de emergência face ao avanço do vírus: de acordo com a OMS, foram infetadas mais de 1700 pessoas desde fevereiro, quando foi dado o alerta para o surto na Guiné-Conacri.
A doença rapidamente se espalhou à Serra Leoa, Libéria e Nigéria. Até ao momento, morreram mais de 900 pessoas.
A taxa de mortalidade do Ébola, um vírus que provoca hemorragias intensas, tem atingido os 90 por cento.
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