O Mecanismo Europeu de Estabilidade notou hoje que, apesar de vários dados positivos, Portugal continua com um dos maiores valores de crédito malparado [non-performing loan, NPL) da zona euro, pelo que é “crucial” melhorar mais a qualidade dos ativos.
Matjaz Susec, diretor adjunto de Estratégia e Relações Institucionais do Mecanismo Europeu de Estabilidades, indicou, em Lisboa, que o setor bancário nacional está mais resiliente, mas que “se mantêm os desafios” e recordou o histórico de reestruturação bancária que beneficiou a estabilidade finaneira.
Com a série de quatro recapitalizações houve limpeza de balanços, o ‘stock’ de NPL está mais de 1/3 abaixo do pico registado em 2016 e os resultados da banca em 2018 foram os mais altos desde a crise, mas “apesar destes progressos, Portugal ainda tem um dos níveis mais altos de NPL na zona euro”, referiu o responsável, numa conferência organizada pela Fitch.
Para Susec, “melhoarar ainda mais a qualidade dos ativos continua a ser crucial para melhorar a resiliência dos bancos e a sua capacidade de apoiar a economia”.
O especialista indicou ainda que o peso da dívida pública continua elevado e que a recuperação atual “cria algum espaço fiscal através de receitas mais elevadas e Portugal continua a reduzir a dívida” neste contexto.
Na intervenção inicial da conferência organizada pela agência de notação, o responsável começou por indicar que Portugal tem reforçado o estatuto de país que “com sucesso ultrapassou as consequências da crise passada” e que com os registos positivos económicos e “acesso robusto” aos mercados financeiros está “menos vulnerável a choques”.
No seu diagnóstico, o responsável notou a aceleração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) até 2,8 por cento em 2017 e que o já notado e o esperado abrandamento nesses números se deve ao “amadurecimento global do ciclo económico ena zona euro”.
O especialista notou ainda que a contribuição líquida das exportações para o crescimento “é ligeiramente negativa”, já que a subida das importações impulsionada pela procura interna ultrapassa ligeiramente o crescimento das exportações, sublinhando, porém, as subidas consideráveis nas vendas ao estrangeiro.
O peso das exportações deverá continuar positivo, mas numa velocidade menor dado o “ambiente externo e o crescimento moderado no turismo”.
Os dados no mercado laboral foram valorizados por Susec, assim como o trabalho que permitiu ao país um acesso sustentado ao mercado e a melhoria na avaliação feita pelas principais agências.
Entre os desafios futuros, o dirigente referiu a necessidade de manter atual confiança dos investidores com o percurso de políticas de reforma, tal como devem manter-se os esforços para reduzir a parte não transacionável da economia.
A produtividade deve aumentar e ser um motor de crescimento, consta ainda da lista enumerada, que inclui políticas fiscais prudentes para garantir a “sustentabilidade das finanças públicas”.
“O elevado nível de dívidas privada e pública precisa de ser reduzido para pavimentar o caminho para um ambiente melhorado de negócios, que sustente investimento”, concluiu o especialista, referindo que a economia nacional está suscetível a ameaças que pairam sobre outros países, como o Brexit, as disputas comerciais ou a diminuição do consumo privado.
Mas Portugal está “em melhor posição de enfrentar estes riscos que antes do programa [de assistência]”, disse o responsável, resumindo os registos positivos e notando que o país, ao entrar, como outros países da zona euro, num período menos favorável do ciclo económico deve combinar políticas que mantenha reformas e política fiscal continuadamente prudente, conforme as recomendações europeias.
“Isso é importante para continuar a ancorar as expectativas dos investidores acerca das perspetivas positivas da economia”, destacou.
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