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Estudantes de Medicina: Pode o excesso prejudicar a formação?

Um estudo da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) revelou que a qualidade da formação médica em Portugal pode ser prejudicada pelo elevando número de estudantes nos hospitais. Mas já há quem conteste os resultados, como Duarte Nuno Vieira.

Para o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), o estudo apresentado pela ANEM aborda a “satisfação” dos alunos e não a “qualidade” do ensino.

“É um estudo que faz a avaliação do índice de satisfação pedagógica, não de qualidade pedagógica, que é uma coisa diferente. Em termos de qualidade pedagógica e sucesso profissional dos licenciados pela Faculdade de Medicina de Coimbra eles estão na linha da frente”, comentou o diretor da FMUC, a pior classificada no ranking do documento da ANEM, em declarações à Lusa.

O Estudo sobre as Condições Pedagógicas das Escolas Médicas Portuguesas, também citado pela Lusa, refere que os doentes que recorrem a hospitais afiliados de sete escolas médicas existentes no território continental (em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Covilhã) “podem encontrar, juntamente com o seu médico, em média, cerca de oito estudantes”.

Porém, este número pode chegar aos 18,5 estudantes por cada único tutor médico e ultrapassar os 25 em algumas unidades curriculares: “Estes rácios elevados são prejudiciais, não só para a aprendizagem dos estudantes, mas mais ainda para os doentes, que, numa situação de fragilidade, são confrontados com um número muito elevado de médicos e estudantes à sua volta”.

Segundo a ANEM, o ensino em meio clínico “apresenta particular descontentamento por parte dos estudantes”, pois o rácio estudante-tutor elevado “encontra-se diretamente relacionado com a insatisfação estudantil para com o ensino em meio clínico”.

De acordo com os dados do documento, o melhor rácio médio estudante-tutor (envolvendo estudantes do 3.º, 4.º e 5.º anos) ocorre na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (2,55 estudantes por tutor), contra os 18,5 da FMUC.

Por unidade curricular, a especialidade de Ortopedia na FMUC tem 34,9 estudantes por tutor e a Cirurgia Geral 25,7, os valores mais elevados registados no total das sete escolas médicas.

“O que está aqui em causa não é a qualidade pedagógica, é apenas a satisfação em termos das condições pedagógicas”, insistiu Duarte Nuno Vieira, lembrando que a FMUC ainda aguardava pela conclusão de parte das novas instalações à data do estudo (entre 2011 e 2013).

Em comunicado, a ANEM sustentou que as escolas com maior número de ingressos e mais anos de funcionamento “apresentam menor satisfação estudantil” do que as escolas com menor número de novos estudantes e mais recentes, situação que enquadra no facto de Portugal ser o quarto dos 34 países da OCDE com maior número de médicos por habitante (12,2 estudantes diplomados por 100.000 habitantes).

É uma tendência “crescente”, frisou a ANEM, e que “resultará inevitavelmente na criação de médicos indiferenciados, sem uma especialidade médica e incapazes de prosseguir a sua formação e dessa forma prestar cuidados de saúde de qualidade”.

Urge, diz o mesmo comunicado, “readequar” o número de estudantes de medicina em Portugal, reavaliar as limitações financeiras das escolas médicas e a sua influência nas condições pedagógicas e identificar e resolver restrições particulares em cada uma das instituições de ensino.

O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, foi mais sintético na análise: “Há gente a mais, batas brancas a mais nas instituições de saúde” em redor dos doentes, o que “colide com o direito dos doentes à tranquilidade e também com uma boa formação dos estudantes”.

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