O processo da tragédia do Meco continua arquivado, enquanto não entra o recurso anunciado pelos familiares das seis vítimas, mas nem assim João Gouveia, o único sobrevivente, encontra descanso.
Hoje, o Público apresenta as informações prestadas pela enfermeira que o terá atendido a 15 de dezembro, a noite em que uma onda arrastou os sete estudantes da Lusófona.
De acordo com a mesma fonte, os sintomas de João eram “claramente” os de um “estado compatível com pré-afogamento”, nomeadamente a frequência cardíaca.
Apesar de estar “alheado de tudo” e em “choque”, o dux teve lucidez suficiente para responder, várias vezes, que não tinha engolido água, apesar de ter sido arrastado pela mesma onda que levou os seis colegas.
Segundo a enfermeira do Hospital Garcia da Orta, João Gouveia deu entrada com uma frequência cardíaca elevada e um estado de “inconsciência”. Tinha sido transportado para o hospital numa maca e coberto por uma manta térmica, em estado “de apatia e de choque”.
O facto do sobrevivente não demonstrar “sinais evidentes de hipotermia” foi também explicado pela enfermeira: antes de entrar no hospital, esteve em veículos (um da Polícia Marítima e a ambulância do INEM) com aquecimento.
A isto se junta o facto dos profissionais do INEM lhe terem retirado “a roupa académica”, que estava molhada. No conjunto, “explica o restabelecimento da temperatura normal do corpo”.
O próprio João Gouveia terá declarado, ao entrar na ambulância, que sentia “muito frio e algumas dores no pescoço, ombros e costas”.
Refira-se que foi o médico do INEM a decidir que o sobrevivente devia ir ao hospital “por se encontrar em estado de hipotermia”.
Estes depoimentos, que constam no processo, continuam a não convencer os familiares das seis vítimas mortais.
Vítor Parente Ribeiro, o advogado das famílias, mantém as dúvidas sobre a alegada situação de pré-afogamento, criticando o procurador da República por escrever, no despacho, que o médico do INEM terá admitido ter atropelado “as boas práticas” clínicas.
“Vamos entregar a abertura de instrução no dia 15 de setembro no Tribunal de Almada”, garantiu o causídico: “continuo a defender que houve crime naquela noite e que o dux não contou a verdade às autoridades”.
As famílias vão requerer a nulidade do inquérito do Ministério Público por João Gouveia não ter sido constituído arguido.
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