O cantor participou num programa diário do Big Brother e defendeu a legalização da canábis. “É uma vergonha que a canábis seja proibida”, disse Toy, argumentando a sua ideia com uma série de imprecisões que o psiquiatra Gustavo Jesus rebate: “Extremamente inacreditável”.
Uma intervenção de Toy na TVI, onde comentava o dia a dia do reality-show Big Brother, gerou grande controvérsia, com o cantor a defender a ideia de que a canábis deveria ser legalizada.
“É extremamente inacreditável que a canábis seja proibida e os antidepressivos, superagressivos, sejam autorizados. Eu tenho de dizer isto. É uma vergonha que a canábis seja proibida. É uma forma de nós podermos libertar um bocadinho a nossa ansiedade”, afirmou o cantor.
Gustavo Jesus, psiquiatra no Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central, rebate toda a argumentação de Toy – cantor que se regozija por o programa estar a levantar questões “importantes para a sociedade”.
O psiquiatra rebate. “Extremamente inacreditável”, começa por escrever, usando as mesmas palavras de Toy.
“Um programa de grande visibilidade como é o caso do Big Brother deve servir também para ‘passar mensagens importantes à sociedade’. É precisamente isso que o Toy diz neste vídeo, extraído de uma emissão de ontem”, escreve Gustavo Jesus, que partilhou no Instagram as palavras do músico.
“Infelizmente, apesar de sempre ter tido a minha simpatia e de merecer a homenagem de todos os que já cantaram e dançaram toda a noite, toda a noite, ao som da sua música, o Toy não escolheu as mensagens certas”, acusa o psiquiatra, com ironia.
Ponto por ponto, Gustavo Jesus desmente a informação de Toy. Desde logo, esclarece que “a depressão não é uma doença nova; sempre existiu e é descrita nos mais antigos manuais da medicina, muito antes de existirem medicamentos para a tratar”.
Por outro lado, salienta, “as pessoas não têm depressão por falta de outros problemas em que pensar, como a falta de dinheiro ou de comida”. “A depressão é uma doença do cérebro que resulta de fatores biológicos e ambientais (que incluem, aliás, os socioeconómicos, como a pobreza). Aqueles que reúnem um conjunto maior de fatores de risco têm mais probabilidade de desenvolver a doença”, acrescenta.
E a ideia de que “os antidepressivos são superagressivos também não tem cabimento: “São hoje em dia medicamentos seguros, eficazes e com poucos efeitos adversos, e além disso salvam vidas”.
Nesse sentido, Gustavo Jesus considera que as afimações de Toy “são de grande irresponsabilidade, porque podem influenciar quem as ouve no sentido de abandonar o tratamento ou de recusar iniciá-lo (isto partindo do pressuposto de que já ultrapassaram o estigma para ir ao psiquiatra)”.
“O Toy finaliza dizendo que estes problemas (referindo-se à depressão) existem. Lá nisso acertou. Mas diz também que ‘é preciso ter muito cuidado com os químicos’, não se lembrando certamente de que todas as substâncias que têm algum efeito sobre o cérebro são ‘químicos’. Isso inclui as moléculas ativas da canábis, da qual falou como possível tratamento, o que é absurdo à luz da evidência que existe. Não confundir efeitos psicoativos imediatos de uma substância com o tratamento de uma doença. Portanto, e não excluindo a óbvia importância dos tratamentos psicoterapêuticos, está na altura de arranjar outro argumento para falar mal dos antidepressivos. Porque esses ‘químicos’ salvam vidas. E essa foi a razão pela qual foi tão preocupante ouvir o Toy”, conclui o psiquiatra.
Veja a declaração de Toy neste link.
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