Uma experiência realizada em Cleveland, nos Estados Unidos, pode levar ao surgimento, a breve prazo, de um remédio para o Alzheimer. A equipa da faculdade de Medicina Case Western liderada por Daniel Wesson realizou um estudo em que os ratos recuperaram as funções cerebrais que haviam perdido com a doença.
Segundo o estudo publicado na revista Science, o bexaroteno, uma substância usada em medicamentos anti-cancerígenos, fez desaparecer até 75 por cento das placas beta-amiloides nos ratos. A acumulação desta forma de proteína é uma das principais características patológicas do Alzheimer.
Depois de 72 horas sujeitos ao tratamento com bexaroteno, os ratos, aos quais havia sido geneticamente estimulado o desenvolvimento da variante do Alzheimer em roedores, retomaram os comportamentos habituais. A equipa liderada pelo professor adjunto de Neurociência detetou ainda que os animais recuperaram a memória e o olfato. A perda do olfato é, aliás, o principal sintoma da doença na variante humana.
É um avanço que “não tem precedentes”, elogiou Paige Cramer, um investigador da mesma faculdade que colaborou no trabalho: “até agora, o melhor tratamento existente em ratos de laboratório demorava vários meses para eliminar as placas amiloides”. Outro autor do estudo, Gary Landreth, realçou que “o medicamento é eficaz nos ratos” e o próximo objetivo passa por “verificar se funciona da mesma maneira nos humanos”, embora ainda se esteja “nos primeiros estágios para transformar esta descoberta fundamental num tratamento”.
Daniel Wesson acrescentou que a equipa vai continuar a aprofundar a investigação e que espera obter “os primeiros resultados dum teste clínico preliminar” antes do final do ano.
A pesquisa foi baseada na descoberta por Gary Landreth, em 2008, de que a proteína Apolipoproteína E (principal veículo do colesterol no cérebro) contribui para a destruição das beta-amiloides.
O Alzheimer desenvolve-se em grande parte quando o organismo, em processo de envelhecimento, perde a capacidade de eliminar a beta-amiloide que se forma naturalmente no cérebro. Um aumento dos níveis da proteína no cérebro acelera a “limpeza” das placas que se acumulam.
Aparentemente, o bexaroteno reprograma as células imunocompetentes no cérebro para que elas possam “devorar” novamente os depósitos de beta-amiloide. O anti-cancerígeno, desenvolvido pelo laboratório americano Ligand Pharmaceuticals, foi aprovado pela Agência Americana de Medicamentos em 1999 para tratamento dum cancro raro de linfoma cutâneo de células T.
Em 2006, o laboratório japonês Eisai comprou o direito internacional de comercializar o bexaroteno.
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