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Capitalismo de Estado chinês alimenta discórdia com Ocidente e ameaça economia

Analistas alertam para crescentes riscos políticos e económicos na China, à medida que o Partido Comunista reforça o domínio sobre a segunda maior economia mundial, quarenta anos após ter aberto o país ao investimento privado.

O modelo de capitalismo de Estado vigente na China, em que os setores chave da economia são dominados pelas firmas estatais, alimenta riscos de um conflito com o Ocidente, alertaram esta semana dois conhecidos economistas chineses.

“O modelo chinês é para o Ocidente uma anomalia alarmante, e leva à discórdia com a China”, afirma Zhang Weiying, professor da Universidade de Pequim, num discurso publicado no portal oficial da instituição, e entretanto apagado.

“Aos olhos do Ocidente, o modelo chinês é incompatível com o comércio justo e a paz mundial, e não deve avançar triunfante”, observa.

Pequim interdita o acesso de empresas estrangeiras a vários setores, enquanto as firmas chinesas compraram, nos últimos anos, empresas e ativos estratégicos em todo o mundo.

Sheng Hong, diretor executivo da unidade de investigação Unirule Institute of Economics, com sede em Pequim, adverte as autoridades chinesas que, ao recuarem na política de Reforma e Abertura, lançada em 1978, e que abriu o país ao comércio e mercado livres, aumentam o potencial de conflito com o Ocidente.

“A reforma e abertura da China é a garantia de cooperação estratégica entre a China e os Estados Unidos”, afirma Sheng, num artigo difundido pelo jornal Financial Times, atribuindo à abertura da economia chinesa “a convergência de valores com o Ocidente”.

No entanto, desde a ascensão ao poder do Presidente chinês, Xi Jinping, em 2013, o Partido Comunista da China (PCC) reforçou o seu controlo sobre a sociedade civil, ensino ou economia. Um plano de modernização designado “Made in China 2025” visa transformar as estatais do país em líderes globais em setores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos.

Dinny McMahon, autor do livro “China Great Wall of Debt” (“A Grande Muralha de Dívida da China”), alerta para os perigos económicos do modelo chinês, face à obsessão de Pequim em assegurar altas taxas de crescimento económico, consideradas essenciais para assegurar a estabilidade social, uma preocupação constante do PCC, partido único no país.

“Desde a crise financeira global [em 2008], o crescimento da economia chinesa tem assentado no investimento alimentado por dívida”, explica McMahon, que foi também correspondente em Pequim do Wall Street Journal, entre 2009 e 2015, estimando que o país criou, nos últimos dez anos, “63 por cento do novo dinheiro a nível global”.

No espaço de uma década, enquanto as economias desenvolvidas estagnaram, a China construiu a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, mais de oitenta aeroportos ou dezenas de cidades de raiz, alargando a classe média chinesa em centenas de milhões de pessoas.

No entanto, segundo a agência suíça Bank for International Settlements (BIS), durante o mesmo período, a dívida chinesa quase duplicou, para 257 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).

“Penso que no núcleo desta questão reside a necessidade política de garantir um determinado ritmo de crescimento”, afirma Dinny McMahon.

O problema é exacerbado pelas autoridades locais e empresas estatais, cuja promoção dos quadros depende sobretudo do ritmo de crescimento do PIB das respetivas províncias ou cidades.

“Visto que um presidente da câmara tem um mandato de cinco anos, mas por norma fica apenas três ou quatro, a forma mais fácil de estimular o crescimento económico é contrair dívida para construir”, afirma McMahon.

Um dos efeitos mais visíveis do desperdício gerado por este ciclo são as dezenas de cidades “fantasma” erguidas por todo o país: condomínios, torres de escritórios, centros administrativos, edifícios governamentais, teatros ou complexos desportivos totalmente abandonados.

“Enquanto mais dívida contraí, mais constrói, e maior crescimento alcança”, descreve. “Mas quando chega a altura de pagar as dívidas contraídas, o responsável já foi promovido”, explica.

Lusa

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Lusa
Etiquetas: ÁsiaChinaocidente

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