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Universidade de Coimbra cria acelerador de partículas para diagnóstico de cancro

A Universidade de Coimbra desenvolveu um acelerador de partículas, pioneiro a nível mundial, que torna mais acessível um diagnóstico preciso e fiável do cancro da próstata e do cancro do pâncreas, anunciou aquela instituição.

O Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS), unidade da Universidade de Coimbra (UC), desenvolveu, em parceria com a multinacional belga IBA, um acelerador de partículas (ciclotrão), que vai otimizar a produção do isótopo Gálio-68, fundamental para o diagnóstico de cancro da próstata e do cancro do pâncreas, e até aqui de difícil acesso, num investimento de dois milhões de euros.

A tecnologia para a produção deste isótopo e transformação em radiofármaco foi completamente desenvolvida pelo ICNAS e a criação de ciclotrões que permitem extrair o Gálio-68 de forma otimizada, mais pura e mais eficiente, foi feita em colaboração com um dos maiores fabricantes de ciclotrões a nível mundial, a IBA, explicou à agência Lusa o coordenador do projeto, Francisco Alves, do instituto da UC, durante uma visita à fábrica belga, perto de Bruxelas, iniciativa na qual também esteve presente o reitor da universidade, João Gabriel Silva.

O primeiro ciclotrão deste tipo deverá chegar a Coimbra em março e a sua produção pela IBA (utilizando a tecnologia patenteada pelo ICNAS) para todo o mundo avançará após a sua validação na UC.

Este acelerador de partículas tem a especificidade de funcionar ‘a duas energias’. Se, anteriormente, o ciclotrão funcionava apenas com a extração do feixe a 18 milhões de elétron-volts (MeV), este novo acelerador permite a extração também a 13MeV, o que otimiza a produção do Gálio-68, aclarou Francisco Alves.

Apesar dos seus cerca de dois metros de altura e largura, o acelerador pesa perto de 17 toneladas, e, lá dentro, faz-se aquilo a que o investigador do ICNAS denomina de “alquimia do século XXI”.

Transforma água em Flúor-18 (o isótopo mais utilizado para diagnóstico de cancro) e, agora, vai passar a transformar uma solução onde está dissolvido zinco (um elemento estável e presente na natureza) em Gálio-68, um elemento radioativo.

Este elemento radioativo poderá mudar por completo o acesso ao diagnóstico a partir de radiofármacos para tumores neuroendócrinos (pâncreas) e da próstata, salienta o coordenador do projeto.

“Não são tumores normalmente detetados no exame clássico e que estão a ter uma importância crescente. Os neuroendócrinos são muito agressivos e muito mortais, e a sua deteção precoce é muito importante”, vincou.

Até ao momento, o processo para utilizar Gálio-68 para esses exames de diagnóstico era muito dispendioso, tendo que se comprar um gerador deste isótopo – que custa cerca de 70 mil euros -, que pode demorar ano e meio a chegar e que depois apenas dura seis meses, com capacidade para produzir duas a três doses diárias.

“Estamos a tornar o gálio muito mais acessível, o exame fica a um custo mais baixo” e produz as doses de acordo com as necessidades do sistema de saúde, vincou.

O diretor do ICNAS, Antero Abrunhosa, salienta que a “escassez do Gálio é um problema global”, apontando até para o caso de uma carta da Associação Americana de Medicina Nuclear para a agência norte-americana FDA (semelhante à Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde – Infarmed) que, em 2018, alertou para a falta desse isótopo e referiu que a solução poderia estar na Europa, a partir da tecnologia desenvolvida em Coimbra.

Segundo Antero Abrunhosa, a tecnologia já está patenteada na Europa e está com o processo em curso noutros países, nomeadamente nos Estados Unidos da América.

Em Portugal, esperam dentro de semanas ter a permissão do Infarmed para produzir e distribuir o Gálio-68 a partir do ciclotrão, cujos exames com este isótopo, neste momento, atingem uma lista de espera que pode chegar aos três meses.

Para além da melhoria no diagnóstico do cancro, este isótopo permite ainda “avaliar qual o grau de evolução da doença, verificar qual a melhor terapêutica ou se a terapêutica que está a ser seguida é eficaz ou não”, referiu o diretor do ICNAS.

Lusa

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