Com 448 votos a favor, 140 contra e 27 abstenções, o Parlamento Europeu aprovou ontem o relatório sobre a atuação da troika nos países resgatados, como está a acontecer com Portugal.
A grande vantagem do documento é permitir várias leituras, consoante o quadrante político.
“Escolhas difíceis”
Da parte da Comissão Europeia, um dos membros da troika, a leitura é a mais óbvia: houve “escolhas difíceis” motivadas por uma “crise repentina”.
“Perante a crise repentina, tiveram de ser tomadas medidas circunstâncias extremas, o que necessariamente envolveu escolhas difíceis”, argumentou o comissário para os Assuntos Económicos e Monetários, Olli Rehn, acrescentando que é preciso “não esquecer que o objetivo do programa de ajustamento económico foi para evitar o incumprimento por parte dos países sobre as obrigações sociais e económicos, o que incluem os benefícios sociais e os salários dos funcionários públicos”.
“Erros”
Ao nível político, a ‘defesa’ da intervenção da troika coube a José Manuel Fernandes, pelo PSD, e Diogo Feio, do CDS.
O eurodeputado social-democrata referiu que o documento “sugere a necessidade do Mecanismo Europeu de Estabilidade se transformar num mecanismo de base comunitária, em que não seja precisa a unanimidade para ser mobilizado, além da criação de um fundo monetário europeu”.
Em causa estava o resultado, apontado pela comissão de Assuntos Económicos e Financeiros do Parlamento Europeu, de falta de legitimidade democrática da troika para impor certas decisões.
Decisões que deixaram o eurodeputado centrista “confortável”, apesar dos “erros” denunciados.
“Foi uma solução de urgência a Estados que não tinham a capacidade para pagar salários e pensões”, ajuizou.
“Solução improvisada”
À esquerda, destacou-se a posição do PS. Os socialistas votaram a favor da aprovação, mas a eurodeputada Elisa Ferreira não poupou nas críticas.
Sublinhando o “problema de funcionamento da zona euro” denunciado pelo relatório, a eurodeputada contestou o preconceito da “existência de países pecadores no sul e virtuosos no norte”.
“A troika foi uma solução improvisada, que não correu bem, porque a qualidade das suas recomendações foi muito má”, citou Elisa Ferreira concorda.
“Lavem as mãos”
Os eurodeputados do PCP e do Bloco de Esquerda votaram contra.
“O que correu mal foi a existência da própria troika”, argumentou Inês Zuber. De acordo com o PCP, o documento aprovado serve apenas para que os partidos que apoiam o governo “lavem as suas mãos” da “brutal” política de austeridade, a qual “é responsável pelo empobrecimento” do país.
Para o Bloco de Esquerda, “nenhuma das metas foi cumprida”. Marisa Matias afirmou que o relatório só passou “pelo consenso em torno da falta de legitimidade democrática”, tanto mais que falha em “não abordar o essencial”, como “o empobrecimento das famílias que resulta da irresponsabilidade dos governantes”.
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