A primeira torre do Bairro do Aleixo desce à terra nesta sexta-feira, numa contagem decrescente que vai limpar do mapa da cidade do Porto um espaço que gera qualificações antagónicas: bairro problemático para uns, casa de amor para outros.
São mais de três décadas de vida que se desmoronam, numa queda abrupta, com espaço para lágrimas de saudade e tremores de revolta. O Bairro do Aleixo é mais do que um mar de problemas empilhados: é a vida de adultos que ali cresceram, idosos que ali queriam morrer. É casa de crianças que assistem ao choro de uns e outros, em virtude desta renúncia imposta.
É a torre que desce e a angústia que sobe. É a torre que implode e a angústia que explode. É o direito político de decidir sobre a vida das pessoas, em nome de uma causa dúbia: por que razão matar um bairro numa cidade inundada por bairros, onde o bairrismo é orgulho?
A Torre 5 do Aleixo é a primeira a morrer, num ato simbólico que deixa gente feliz, também. Há moradores que querem deixar o Aleixo e viver noutras condições. Um bairro mistura todos os caprichos, dores e sentimentos. É assim, um bairro, de afetos.
Amanhã, o Aleixo será um bairro do amor, de gente que sofre por não ter ninguém, onde os moradores terão de tratar nódoas negras sentimentais. Jorge Palma quis falar de amor e imaginou um bairro, com metáforas que se aplicam nesta despedida.
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