A tecnologia que prepara mergulhadores para submergir no mar foi adaptada à medicina humana e agora também ajuda cães e gatos com problemas de saúde a terem melhor qualidade de vida, em Odivelas, nos arredores de Lisboa.
A primeira câmara hiperbárica em Portugal para animais está disponível no Centro de Reabilitação e Regeneração Animal de Lisboa (CR2AL), em Odivelas, num país onde ainda são poucas as que existem para uso na saúde humana.
A câmara está a funcionar há cerca de dois meses, recebendo pacientes direcionados por médicos veterinários, depois de avaliados por uma equipa multidisciplinar.
É um aparelho estanque, parecido com um mini submarino branco. No interior é fornecido ao paciente uma alta dose de oxigénio a uma pressão superior à da atmosfera, durante um período de tempo adaptado ao caso.
Sob pressão, “o oxigénio entra mais depressa na corrente circulatória”, permitindo maior oxigenação e, consequentemente, maior regeneração de todos os tecidos, inclusive a nível central do sistema nervoso, explicou Ângela Martins, responsável pelo CR2AL, médica veterinária, professora universitária na Lusófona e diretora do Hospital Veterinário da Arrábida.
A tecnologia surgiu ligada ao treino para adaptação à pressão do mergulho subaquático, tem sido também usada por desportistas de alto rendimento e na preparação de astronautas, mas quando aplicada à medicina regenerativa consegue ajudar em doenças neurológicas, inflamações, cicatrização de feridas e regeneração dos tecidos, lesões articulares, quadros de anemia e pancreatites, entre muitas outras.
O oxigénio funciona como um medicamento, cura, mas também pode ter efeitos secundários e contraindicações, pelo que os casos são avaliados individualmente.
“Em alguns [casos] conseguimos ter um tratamento eficaz, há outros que não, mas conseguimos colocar [o animal] numa situação funcional para viver (…) não numa quinta, num meio rural, mas dentro de uma família. Depois há doenças degenerativas que, se não fizermos nada, em dias, meses, a vida deles é limitada e, com isto [o tratamento], há um prolongamento grande da sua vida. A experiência que nós temos da literatura é que podem viver um ano ou um ano e meio a mais, o que, num cão ou gato, são muitos anos nossos”, assegurou Ângela Martins, realçando que, “quanto mais cedo o doente vier, mais rápida ou eficaz será a reabilitação”.
‘Sky’, um dos pacientes em tratamento, é um cão de grande porte, de meia idade, que ainda teria muito para correr se não fosse uma mielopatia degenerativa, semelhante à esclerose amiotrófica nos humanos, que lhe está progressivamente a retirar a mobilidade, a partir das patas traseiras.
Neste caso, segundo a responsável, as sessões na câmara hiperbárica “conseguem retardar a degradação que a doença lhe vai fazer”.
Outras expetativas apresenta o cocker ‘Mr. Fox’, que faz sessões para apoio a um pós-operatório ortopédico. Espera-se uma “reabilitação funcional para que fortifique a massa muscular, apoie o membro e reduza a dor, permitindo que os implantes que o ortopedista colocou não sejam retirados”, realçou.
O método, contudo, não é para todas as bolsas: Uma sessão “isolada custa cerca de cento e cinquenta euros, e, quando em conjunto, cerca de cem euros”, disse, salientando que o número de sessões necessárias e a sua regularidade é variável.
Ângela Martins salientou que este método, que não é uma medicina alternativa, cumpre os critérios para o apoio do Estado, mas está cética que isto aconteça em relação aos animais, tanto mais que Portugal tem poucas câmaras hiperbáricas disponíveis para ajudar os humanos e “as pessoas estão primeiro”.
“Daqui a dez anos, se calhar, também para eles”, os animais, considerou.
O seu “grande objetivo é mudar o rumo da veterinária, para que todos os animais sejam respeitados, como membros da família”, que “a medicina veterinária cresça” com “uma base científica”, que as pessoas e os médicos veterinários saibam que estas técnicas estão disponíveis.
O CR2AL, com abertura oficial prevista para setembro, terá também um laboratório de medicina regenerativa para aplicação a animais de células estaminais e plasma rico em plaquetas, revelou.
Curioso com a presença de jornalistas na clínica, Steve, ‘blogger’ que trocou os EUA por Sintra há três anos, contou que veio para dar as melhores condições possíveis à sua ‘pug’ Filoli, com lesões na coluna.
“Nos EUA, os médicos disseram-me que ela teria seis meses de vida. Foi há três anos e ela ainda está aqui. Costumo dizer que, para mim, vir aqui é como ir a Fátima”, disse.
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