Seis pessoas estão desaparecidas depois de a viatura de caixa aberta em que seguiam ter sido hoje arrastada por um rio que transbordou no centro de Moçambique, disseram testemunhas à Lusa.
As inundações naquela zona do país acontecem cerca de 24 horas depois da passagem do ciclone Idai, com chuva e ventos fortes, e são mais uma dificuldade a juntar ao rasto de destruição deixado pela intempérie desde quinta-feira à noite.
Um balanço preliminar das autoridades moçambicanas divulgado na sexta-feira refere que o ciclone provocou 19 mortos na província de Sofala, sobretudo na cidade da Beira e arredores, zona onde a tempestade entrou em terra com a força máxima.
No entanto, o número deverá ser maior, tendo em conta os relatos de diversas outras fontes que vão dando conta de outras mortes associadas à queda de casas precárias e afogamentos na província de Sofala, assim como na de Manica.
O facto de continuar a haver falhas de energia e comunicações na região está a dificultar o levantamento da situação, disse hoje um porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC).
Há estruturas danificadas por toda a parte, sobretudo nos bairros mais pobres, com habitações precárias destruídas, estradas intransitáveis e rios a transbordar.
As seis pessoas que hoje foram arrastadas numa viatura desafiaram a corrente do rio Haluma, no distrito de Nhamatanda, Sofala, disseram à Lusa várias testemunhas no local.
O rio foi um dos que transbordou e cortou a Estrada Nacional 6, a principal estrada do centro de Moçambique, isolando a cidade da Beira, do resto do país – uma vez que o aeroporto da capital provincial está inoperacional, devido aos estragos, desde quinta-feira.
De acordo com quem observava o acidente a partir da fila que se acumula junto ao corte de estrada, dez passageiros seguiam no sentido Beira – Chimoio quando a viatura tentou atravessar a ponte sobre o rio Haluma, mas a corrente projetou-a, até ficar submersa.
As testemunhas viram quatro passageiros escapar, agarrados a ramos de árvores e ao atrelado de um camião, também imobilizado no local.
“Vimos pessoas a morrerem ali à nossa frente”, contou à Lusa, Hermenegildo Barro, camionista.
Uma outra testemunha disse que o condutor da viatura com passageiros na caixa de carga ignorou alertas de outros automobilistas para não atravessar.
“De repente só vimos a parte traseira a levantar e a cuspir as pessoas”, disse à Lusa, Pascoal Meru, sendo que algumas não foram avistadas depois do acidente.
Residentes disseram à Lusa que há outras pontes submersas na região.
As Nações Unidas estimam que haja 600 mil pessoas afetadas de diversas formas pelas intempéries de março no centro de Moçambique e que mais de um terço delas sejam crianças.
Além da destruição de infraestruturas públicas (unidades de saúde e escolas), muitas perderam as casas, os alimentos e os campos de onde podiam obter algum sustento, aguardando agora por ajuda humanitária.
“A minha casa desabou por causa do ciclone”, disse à Lusa Anastácia Alficha, viúva, com três filhos menores, e que atravessam um terreno alagado com água pela cintura.
Encontraram abrigo em casa de uma vizinha, mas não conseguiram dormir, dada a incerteza da situação que agora vivem, relatou.
O INGC e diversos parceiros internacionais estão na região a aguardar por melhores condições meteorológicas e de circulação para poder começar a entregar comida, montar abrigos e fazer reparações.
Além de caravanas automóveis, há helicópteros prontos para distribuir ajuda.
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