Seguro e o PS entre a “cisão” de Soares, “honestidade” de Alegre e o “suicídio político” de Galamba

O que deve e vai fazer o PS de António José Seguro para responder à “salvação nacional” pedida por Cavaco? Mário Soares insiste no risco de “cisão”, Alegre confia na “honestidade” do secretário-geral e João Galamba não acredita no “suicídio político” de Seguro ‘encomendado’ por Belém.

António José Seguro é, no atual momento, a figura política mais importante do país. Depois do Presidente da República ter apelado aos partidos que assinaram o memorando da troika para chegarem a um “compromisso de salvação nacional”, o PS aceitou dialogar com PSD e CDS enquanto vota a favor, no Parlamento, de uma moção de censura para derrubar o Governo formado por PSD e CDS.

Dentro do próprio PS, não falta quem queira aconselhar o líder. Os apoios e críticas tanto chegam de figuras históricas do partido como de atuais dirigentes. A única unanimidade é a convicção de que António José Seguro tem de defender a matriz socialista do partido.

Um dos primeiros a orientar o secretário-geral já ocupou esse mesmo cargo: Mário Soares. O fundador do PS e antigo Presidente da República não tem dúvidas de que Seguro vai rejeitar qualquer compromisso. “Tenho a certeza que não vai haver acordo entre o PS e a direita do Governo, porque isso ia criar uma cisão no PS e só iria beneficiar o PCP”, explicou o ex-líder socialista.

Citado pelo Público, Mário Soares revelou ter conhecimento de várias figuras do partido que vão avançar para a desfiliação caso Seguro aceite algum acordo com PSD e CDS. “Saem do partido”, reforçou, para insistir que “não pode haver acordo nenhum”.

O antigo Presidente tornou público um resumo das conversas que o próprio Soares teve com Seguro e com Manuel Alegre, alegadamente realizada na semana passada. No encontro, o secretário-geral terá afiançado que “não cederia nos princípios e valores do PS”, insistindo será impossível haver um compromisso sem eleições legislativas antecipadas, a renegociação do resgate e a adoção de políticas de estímulo à economia.

“Homem de caráter”

“Acho que o Seguro é um homem de caráter e vai cumprir aquilo com que se comprometeu com Manuel Alegre e comigo e, portanto, não vai fazer acordo nenhum”, revelou Mário Soares, que em tempos chegou a enfrentar o mesmo Manuel Alegre na corrida para Belém, numas eleições ganhas por Cavaco Silva.

Ontem, fora Manuel Alegre a admitir, citado pelo I, que tinha “a palavra do secretário-geral” de que não haveria “nenhuma cedência” nas negociações com PSD e CDS, manifestando-se crente “na palavra e na honestidade” do secretário-geral.

João Galamba também não acredita num compromisso, mas por outro motivo: a exigência de Cavaco Silva é uma tentativa de ‘assassinato político’ de António José Seguro, que tem insistido na realização de eleições antecipadas. “É impossível” haver um acordo “porque, para ser bem-sucedido, implicava o suicídio político de um deles”, Cavaco ou Seguro.

“Acho que o suicídio político que o Presidente da República tem em mente é o suicídio político do líder do Partido Socialista, porque qualquer acordo implicaria que o Partido Socialista renunciasse ao que tem dito nos últimos anos”, argumentou o deputado socialista, num almoço em que estavam presentes os também deputados Miguel Frasquilho (PSD) e Nuno Magalhães (CDS).

A dureza desta opinião motivou mesmo a intervenção do líder parlamentar do PS, Carlos Zorrinho, que elogiou “a grande tendência” de Seguro “para estar ao lado dos portugueses e de Portugal”, esvaziando a tese de Galamba ao garantir não ter “nenhuma ideia que o líder do PS tenha qualquer tendência suicida”.

“Este acordo é, para já, uma incerteza”, frisou Zorrinho, em vésperas de liderar o voto favorável do PS à moção de censura que hoje sobe ao Parlamento: “é um processo de diálogo. Não sabemos o que é que determinará esse processo de diálogo, mas reforça a centralidade do Partido Socialista no processo político português”.