A seca na ilha de São Miguel, que tem afetado a produção de milho forrageiro, está a levar agricultores a ponderar reduzir explorações devido à falta de alimentos para os animais durante os meses de Inverno.
Raul Almeida, de 49 anos, tem, juntamente com o irmão, Carlos, de 48, uma exploração agrícola com cerca de 140 vacas leiteiras e mais de 120 novilhos, e uma empresa de prestação de serviços de máquinas agrícolas.
Quando semearam o milho, a 15 de abril, a terra já estava “meia seca”. Desde então, “nunca mais choveu uma chuva que dê para molhar” e a orientação do vento, que chegou a atingir rajadas de 60 km/h, tem exacerbado os efeitos da devastação causada pela falta de água nos solos, observou Raul Almeida.
As sementes eram boas, já que 40 dias depois de terem sido plantadas, à primeira chuva que caiu, o pé nasceu logo. Esses pés continuam nos campos, mas a grande maioria “não ultrapassa os cerca de dez centímetros” de altura, muito longe dos habituais dois metros.
A última chuva considerável de que se lembra caiu em março. Desde então, tudo o que cai é insuficiente e “o tempo de norte, seca”.
Raul trabalha nos campos desde os 17 anos e garantiu que nunca tinha visto um caso como o deste ano, em que “não se aproveita nada” e a situação “é uma catástrofe”.
Os terrenos onde os irmãos Almeida semeiam o milho que serve de alimento aos animais durante os meses de inverno ficam nos Fenais da Luz, na costa norte da ilha, a mais afetada pela seca.
As condições da terra na época das sementeiras eram tais, que houve, mesmo ali ao lado, quem não chegasse a plantar o milho, considerando que não valia a pena a despesa.
Os irmãos semearam na esperança de que as condições adversas mudassem. Raul lembrou que, em 2001, os campos encontravam-se em estado semelhante ao deste ano e, ainda assim, decidiram semear o milho a 01 de abril. Nessa mesma noite, caiu “uma chuva que parecia um dilúvio” e esse acabou por ser um ano bom.
“O milho é uma cultura que faz muita despesa”, garantiu Raul, ao estimar que, sem contar com a renda da terra, a plantação de um hectare de milho “nunca fica por menos de mil euros”.
A plantação do lavrador tem 25 hectares, dos quais disse acreditar que se pode salvar, “com muita sorte, juntando tudo, talvez um hectare”.
A situação é generalizada. Na costa sul, onde os problemas são menos evidentes, as culturas de milho estão razoáveis, já que o sol quente levou o milho a espigar mais cedo, antes de atingir os dois metros de altura, como habitualmente, o que levou Raul Almeida a afirmar que, este ano, as produções vão ser mais fracas, “nenhuma vai atingir as 60 toneladas por hectare e algumas não vão produzir nada”, como é o caso da sua.
A proximidade do mar e a exposição ao vento são fatores que contribuíram muito para as condições em que se encontra a produção dos irmãos Almeida, mas também a própria topografia dos terrenos, inclinados e altos, deixou as culturas mais vulneráveis.
Nos terrenos à volta, o cenário é semelhante, com a exceção da exploração de Norton Miranda, que, por ser mais baixa, é mais abrigada do vento e, por isso, é o terreno com melhor produção nas redondezas. No entanto, também esta produção fica muito aquém da de anos anteriores.
O presidente da Federação Agrícola dos Açores, Jorge Rita, reconheceu que “a situação é aflitiva, quase dramática”, e que “basta olhar a olho nu para alguns cerrados, para se perceber que há muitas zonas em que a produção de milho, este ano, vai ser zero”.
Contudo, disse que “é preciso esperar até setembro ou outubro [altura em que é feita a colheita do milho] para se perceber ao certo a dimensão do problema”, até porque há produções “que podem parecer boas, mas depois o grão não tem qualidade”.
Jorge Rita disse já ter alertado para a necessidade de se criarem mecanismos para enfrentar as secas, como a criação de estruturas de reserva de água, uma vez que a escassez de água afeta gravemente a produção agrícola e pode vir a afetar o abastecimento de água às populações.
Arnaldo Rocha é um praticante de parapente que há mais de 20 anos costuma usar os pastos dos irmãos Almeida para a descolagem ou aterragem, e que está habituado a ver a ilha de cima. Para ele, a situação de seca na costa norte da ilha de São Miguel, particularmente entre a zona junto à reta dos Fenais da Luz e o Pilar da Bretanha, é desoladora.
Ver aquelas terras, que costumavam ser verdes, completamente secas, entristece, descreveu. Os lavradores trabalham “dia e noite, para depois terem um resultado destes”.
De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), nos últimos anos, em São Miguel, tem chovido menos do que a média, uma situação que tenderá a agravar-se com os efeitos das alterações climáticas.
Para os irmãos Almeida, já não há ponto de retorno: “A partir daqui, podia chover todos os dias, que já não muda nada… Estes campos estão completamente acabados”.
Se a situação se mantiver, Raul gostaria de “manter a exploração”, mas, provavelmente, terá de reduzir a quantidade de animais.
“Se não conseguirmos adquirir ou importar milho, ou qualquer coisa assim, não temos comida suficiente para manter o gado até à próxima campanha do milho. Vamos ter que abater animais”. E muitos, garantiu.
Este inverno não será um problema, pois ainda têm alimentação da produção do ano anterior, mas, para o próximo ano, estão a considerar a possibilidade de reduzir a exploração.
Entre novilhos e vacas leiteiras, os irmãos Almeida têm de alimentar mais de 260 animais.
Conheça os resultados do sorteio do Euromilhões. Veja os números do Euromilhões de 28 de…
Euro Dreams Resultados Portugal: A mais recente chave do EuroDreams é revelada hoje. Conheça os…
Milhão: onde saiu hoje? Saiba tudo sobre o último código do Milhão de sexta-feira e…
Isadora Duncan nasceu em São Francisco, a 27 de maio de 1877. É considerada a…
É um dos maiores conflitos militares da Europa e começou a 24 de maio de…
Escritor, artista, e desenhador de banda desenhada, Hergé ficou célebre pela personagem que criou, mas…