O chefe da diplomacia sarauí considerou hoje que a ONU deve atuar para que Marrocos aceite o referendo de autodeterminação para o Saara ocidental e acusou a França de bloquear qualquer progresso no Conselho de Segurança da ONU.
“A paciência dos sarauís tem limites. É tempo de as Nações Unidas assumam as suas responsabilidades”, declarou à agência noticiosa AFP à margem de uma conferência de imprensa Mohamed Salem Ould Salek, ministro dos Negócios Estrangeiros da República Árabe Sarauí Democrática (RASD), proclamada em 1976 pela Polisário e que controla cerca de 20 por cento do território.
“A comunidade internacional deve saber que é muito difícil manter o povo sarauí na expectativa e que essa situação provoca uma frustração muito profunda em todos os sarauís (…) É necessário ter isto em consideração antes que seja demasiado tarde”, acrescentou, mas recusando precisar se admitia um regresso às armas.
Antiga colónia espanhola, o Saara ocidental foi cenário de um conflito até 1991 entre Marrocos, que anexou o território em 1975, e a Frente Polisário, que pretende a independência desta região desértica de 266.000 quilómetros quadrados, rica em fosfatos e banhada por águas ricas em peixe.
Em setembro de 1991 foi assinado um cessar-fogo sob a égide da ONU que previa um referendo de autodeterminação em seis meses, sucessivamente adiado devido a um diferendo entre Rabat e a Polisário sobre a composição do corpo eleitoral e o estatuto de território.
Diversos ciclos de negociações não conseguiram aproximar as posições da Polisário, apoiada por Argel, e Marrocos, que apenas propõe uma ampla autonomia do Saara ocidental e recusa discutir a soberania do que considera como parte integrante do seu território.
O último enviado da ONU, o ex-Presidente alemão Horst Kohler, 76 anos, demitiu-se em maio “por motivos de saúde”, ao garantir, após seis anos de interrupção, contactos entre as partes envolvidas, em dezembro e março: Marrocos e a Polisário, e ainda a Argélia e Mauritânia, vizinhos do Saara ocidental.
“A realidade, exista ou não um problema de saúde, é que Marrocos bloqueou Kohler, como bloqueou todos os enviados especiais [da ONU] e como vai bloquear os que virão”, afirmou Mohamed Salem Ould Salek.
“O problema reside no interior do Conselho de Segurança”, onde a França, membro permanente com direito de veto, apoia a posição de Marrocos, acusou.
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