O escritor, investigador, antigo inspetor da PJ e ex-autarca reage à morte da menina de 2 anos – assassinada nesta terça pelo próprio pai – com um texto que se transforma numa crítica feroz à justiça, à escola, aos valores. As palavras de Moita Flores ecoam no Facebook e não deixam quase ninguém indiferente.
Moita Flores diz-se “sem palavras, para comentar o caso que marca a atualidade: a morte de uma criança de 2 anos, assassinada pelo pai, que cometeu suicídio, num caso de violência doméstica extrema – que começou ontem com outro crime do mesmo autor e que custou a vida a uma mulher, no Seixal.
Os crimes terão origem numa separação litigiosa e com a reivindicação de direitos paternais, que a justiça iria decidir.
Depois de narrar estes factos, com revolta implícita, Moita Flores entra no centro do raciocínio.
“Sei que não há soluções fáceis para esta tragédia. Num mês e uma semana de 2019,foram assassinadas 9 mulheres e uma criança de 2 anos”, salienta.
Fala de uma “Justiça com mão leve, para não dizer desleixada”, relativamente a casos de violência doméstica.
“Sei que os preconceitos, a humilhação, a vergonha, o medo enclausuram as vítimas no seu próprio silêncio. Sei que o álcool e as drogas potenciam esta violência extrema. Sei que a escola não dá prioridade à formação de gente boa, fraterna. Estimula a competitividade, exalta o culto dos sábios em matemática ou geografia, ou noutra disciplina qualquer. Procura formar sábios. Não se preocupa em formar crianças espiritualmente saudáveis. Ignora a educação moral e cívica. É o mito de Auschwitz, onde grandes cientistas assassinavam cruelmente milhares de presos como cobaias das suas investigações. Grande sábios, homens maus” , sustenta.
“Enquanto isto, os professores estão amarrados à Escola das fichas, ao trabalho administrativo, impedidos de cumprir a sua função em plenitude: ensinar e formar. E as famílias não estão motivadas. Nem a Igreja. Afinal de contas, nós todos vivemos ou protestamos contra as consequências da violência doméstica”.
Moita Flores termina como começou: com os números da violência doméstica, que em 2019 se agravaram, no que diz respeito a vítimas mortais: desde janeiro deste ano, já morreram 10 mulheres, uma delas menor.
“Mas Pôncio Pilatos é quem mais ordena. Lavamos as mãos. Chegado aqui, sabendo tudo aquilo que sei, também não sei nada”, conclui o escritor.
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