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“O primeiro-ministro foi de uma infelicidade total. E não pediu desculpas, o que dói mais”

Roberto Roncon, o médico apontado como o que terá lidado com mais doentes de covid-19 em Portugal, criticou a “falta de bom senso” das autoridades portuguesas e avisou que “o cinismo é pior do que a hipocrisia”.

Em entrevista ao Expresso, antes de ir de férias após três meses a trabalhar diariamente com doentes de covid-19 no Hospital de São João, no Porto, o coordenador do centro de referência de ECMO (equipamento que permite dar tempo de recuperação a doentes em estado muito grave) afirmou mesmo que “o primeiro-ministro perdeu uma boa oportunidade para estar calado”.

“As três grandes figuras do Estado Português reuniram-se para celebrar a vinda de uma competição desportiva para Portugal e o primeiro-ministro disse que era um prémio para os profissionais de saúde. Não foi dito com má fé, mas é de uma infelicidade total. E não pediu desculpas, o que dói mais”, sustentou, lembrando que “ninguém se reuniu dois dias depois”, no Dia Nacional do Médico.

“Na Alemanha vão aumentar o salário dos médicos, em França dar um prémio. (…) As pessoas também precisam de coisas simbólicas. Porque não dão aos médicos e enfermeiros que estiveram na linha da frente um dia de férias?”, sugeriu.

Com os profissionais de saúde exaustos e a tutela a ter “uma comunicação tão calamitosa”, Roberto Roncon receia que, a ocorrer a segunda vaga da pandemia, a resposta do Serviço Nacional de Saúde não seja tão positiva como tem sido até agora.

“Estamos tão cansados que tenho algum receio que toda a energia e boa vontade que tivémos na primeira vaga possa não existir na segunda”, avisou.

Para além de António Costa, também Marta Temido se comportado de forma “inábil”.

“A ministra tem um problema enorme de empatia com as pessoas”, acusou, lembrando as incoerências da governante nas conferências de imprensa sobre a pandemia, como quanto ao uso de máscara.

“Se começar a correr mal, não vai haver responsabilidade política, as pessoas é que se terão portado mal. E se queremos falar aos jovens, se calhar não é através de uma conferência de imprensa, mas do Youtube, do Facebook, da linguagem que eles conhecem. Têm de colocar jovens a falar com outros jovens”, reforçou.

O verão ainda agora começou, mas o médico do São João já olha para o inverno com receio.

“Nós estamos cansados, foi de uma violência atroz, e não estamos a ver no poder político o reconhecimento. (…) O que nós fizemos não é normal, está para lá do que é previsível”, considerou.

Mais do que a doença, o coordenador do centro de referência receia que o primeiro-ministro tenha “virado a página” e descure a preparação para uma fase em que os hospitais já tenham retomado a atividade normal.

“Não nos podemos esquecer que o que fizémos até agora foi com a atividade normal parada e sem o inverno. (…) Aquelas declarações do dr. António Costa custam, representam um virar de página, como alguém que já está noutra onda. Mas, se calhar, é um bocadinho cedo para virar a página. Nós estamos cansados, é verdade, o inverno vai ser difícil, o SNS não passou a estar bem”, concluiu o médico que terá sido o que lidou com mais doentes com covid-19.

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