Os dados são da Associação SOS Hepatites: no período de um ano, foram evitadas “cerca de 2050 mortes” prematuras de doentes infetados com hepatite C devido às novas terapêuticas. Ainda segundo a mesmo organização, há cerca de 9100 doentes em tratamento em Portugal.
Em entrevista à Lusa, Emília Rodrigues, a presidente da Associação SOS Hepatites, avançou que, “até este mês de abril, temos cerca de 9100 doentes em tratamento e temos cerca de 2050 curados”.
A dirigente referia-se aos doentes que estão a iniciar o tratamento com as novas terapêuticas disponibilizadas em Portugal, lembrando que “só seis meses após a conclusão do tratamento é que se pode ter essa certeza” quanto à cura.
As declarações foram proferidas mais de um ano após o acordo entre o Estado e o laboratório que fornece os medicamentos inovadores para a hepatite C, que o então ministro da Saúde, Paulo Macedo, apresentou a 6 de fevereiro de 2015.
O acordo foi alcançado depois de meses de luta dos doentes para conseguirem obter o tratamento, num processo que ficou marcado pela intervenção, na Assembleia da República, de um portador de hepatite C, José Carlos Saldanha, que interrompeu a audição do então ministro da Saúde pedindo-lhe que não o deixasse morrer.
“Termos estes doentes em tratamento e estes doentes curados para nós é uma vitória porque são pessoas que não vão morrer precocemente, é também uma vitória porque deixou de ser a ‘doença dos divórcios’ para passar a ser a doença da alegria”, frisou Emília Rodrigues: “Com 97 por cento de cura é uma alegria”.
Na altura da assinatura do acordo, segundo a responsável, existiam 13 mil doentes com hepatite C nas consultas do Serviço Nacional de Saúde, embora o número de infetados não diagnosticados devesse “ser muito superior”.
Os resultados deste primeiro ano dos tratamentos com os medicamentos inovadores estarão em destaque, a partir de hoje, no Congresso Português de Hepatologia 2016, organizado pela Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF), no Porto.
Isabel Pedroto, a presidente da APEF, salientou que “a terapêutica na hepatite C tem evoluído muito, têm sido tratados milhares de pessoas, mas há um grupo de doentes para os quais urgem novas terapêuticas e com melhor resposta, nomeadamente os doentes com doença muito avançada do fígado e os doentes com um subtipo muito específico, que é o tipo 3 do vírus da hepatite C”.
“Estes doentes ainda estão sem uma terapêutica tão eficaz quanto os restantes, mas tem havido um grande avanço nesta área”, continuou: “Algumas terapêuticas estão em fase de desenvolvimento, ainda não estão aprovadas, mas vêm de facto preencher essa lacuna”.
O congresso serve para “refletir sobre o problema”, na medida em que “não chega só tratar os doentes que conhecemos, mais importante é identificar a percentagem de doentes que estão infetados, e são muitos, e que não sabem”.
“Não podendo tratar esses doentes, não investindo no diagnóstico e no rastreio, dificilmente vamos conseguir ganhos em saúde, mesmo com as melhores terapêuticas do mundo. Temos de saber a quem dar essas terapêuticas e saber onde é que esses doentes estão”, defendeu Isabel Pedroto.
“A situação de Portugal é excelente, tratamos milhares de doentes, mas também temos a consciência de que só conseguimos reduzir a transmissão da doença, se formos procurar aqueles que estão numa fase inicial”, disse.
Segundo dados da associação, em Portugal apenas 30 por cento dos indivíduos infetados pelo vírus da hepatite C estão identificados: “Em termos de saúde pública, a terapêutica para a hepatite C só pode ser considerada um bom investimento se se fomentar o diagnóstico, a prevenção, a vigilância dos grupos de risco e uma maior acessibilidade ao tratamento”.
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