Cerca de uma centena de mulheres marchou hoje, em Luanda, contra o número “crescente” de violência de que são alvo, considerando a atual situação “extremamente preocupante” e pedindo às autoridades “maior rigor” na aplicação da lei aos infratores.
“Chega de Violência Contra as Mulheres” foi o lema desta marcha, organizada por um grupo de “mulheres solidárias” com o “elevado índice de violência”, desde “estupro, assédio, espancamentos e até mesmo mortes”, que está a abalar nos últimos meses o país.
A marcha, que congregou maioritariamente mulheres, trajadas de branco, teve início no Largo da Independência, centro de Luanda, percorreu a Avenida Deolinda Rodrigues e culminou no Largo do Cemitério da Santa Ana, com depoimentos de vítimas e lançamento de balões com apelos ao fim da violência.
“Basta de violência”, “Parem de matar as mulheres”, “Mulher não é saco de pancada”, “Quero ser respeitada” ou ainda “Agressor vai para cadeia” foram as palavras de ordem estampadas nos cartazes e enunciadas durante a marcha seguida de perto pela polícia nacional.
“A situação é extremamente preocupante e precisamos de ajuda urgente. A ideia é o grito de socorro por conta da onda crescente da violência contra as mulheres que nos últimos tempos se agravou. Decidimos gritar e dizer basta”, disse à Lusa Samba Alfredo.
Segundo a estudante, também uma das organizadoras da marcha, a iniciativa surge também para “apelar às mulheres a pararem de romantizar a violência, porque muitas delas acabam por romantizar a agressão”.
“Porque violência não é uma forma de amor, mas sim de opressão”, atirou.
Solidária com causa está igualmente Brenda Evangelista, que se juntou à marcha por estar “farta de tantos crimes contra a mulher”, principalmente, observou, por ela ser um ser “frágil e indefeso”.
“Estamos aqui para tentar sensibilizar homens e mulheres para vivermos em paz, que da violência não resulta nada de positivo. Esperamos que as pessoas pensem antes de agir. Neste último ano estamos a ter conhecimento de vários casos de violência. Colocamo-nos no lugar dessas mulheres e vamos prevenir”, exortou.
Nos últimos meses, a sociedade angolana tem manifestado repúdio face ao crescente número de casos de violência contra a mulher, desde a doméstica, contra a criança e até crimes passionais, com alguns deles a terminarem com mortes.
A Lusa noticiou na quinta-feira que a ministra da Ação Social, Família e Promoção da Mulher de Angola, Vitória da Conceição, considerou que a violência contra a mulher no país está a “tornar-se num caso de saúde pública”, defendendo a revisão da lei que pune esse crime.
Lindinaura dos Santos, de 25 anos, há três semanas foi agredida com uma faca pelo pai das filhas, deixando-a com ferimentos graves no pescoço e nos membros superiores, hoje ainda com as feridas por sarar, também se juntou a marcha dizendo “chega de agressões”.
“É relevante [a marcha], porque o que tem acontecido, não só a violência doméstica, mas no seu geral, como abusos sexuais e contra a crianças, é que estamos a assistir quase diariamente a casos tristes”, realçou.
“Não grito só por mim, mas por todas as mulheres que estejam a passar ou que já passaram pelo que passei”, acrescentou.
Delma Monteiro, que procedeu à leitura do manifesto da marcha de protesto contra a crescente violência, assinalou a “indignação” das mulheres perante a situação, acusando o Estado angolano de “omissão” na resposta a esses casos.
“A omissão do Estado na resposta à violência contra a mulher fica visível na falta de políticas públicas específicas e na violência institucional praticada pelos entes do Estado”, apontou.
“Hoje, decidimos sair à rua, porque estamos indignadas com a violência sofrida pelas mulheres na nossa sociedade. Entendemos que não podemos combatê-la sozinhas e, por isso, iremos fazer crescer esse movimento que diz chega de violência”, concluiu.
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