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Morreu o maestro Mariss Jansons, para quem a música “está para lá da partitura”

O maestro letão Mariss Jansons, 76 anos, para quem a essência da música estava além da partitura, morreu no sábado, em S. Petersburgo, Rússia, onde residia, informou hoje a Orquestra Filarmónica de Viena, de que era maestro honorário.

“Chegou-nos a triste e demolidora notícia da morte do nosso maestro honorário”, escreve a instituição, na sua página na Internet.

Mariss Jansons tinha cancelado vários concertos com a Filarmónica de Viena, em novembro, e anulado, pouco antes, uma digressão com a Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera, de que também foi maestro titular, depois do agravamento da insuficiência cardíaca de que padecia.

Jansons, que se apresentou em Portugal no âmbito das temporadas Gulbenkian de Música e do Ciclo das Grandes Orquestras Mundiais, é um dos mais premiados regentes, em particular pelas interpretações de compositores como Dimitri Chostakovitch, Gustav Mahler, Anton Bruckner e Ludwig van Beethoven.

Mariss Jansons nasceu em Riga, na antiga União Soviética, em janeiro de 1943, num abrigo clandestino, durante a ocupação nazi, na II Guerra Mundial.

Iniciou os estudos de música com o pai, o maestro Arvid Jansons, antes de entrar nas classes de violino, piano e direção de orquestra do Conservatório de Leninegrado.

Uma bolsa internacional permitiu-lhe, na década de 1960, prosseguir os estudos em Viena, com Hans Swarowski e, mais tarde, com Herbert von Karajan, em Salzburgo, de quem viria a ser maestro assistente.

Em 1971, venceu o Concurso Internacional da Fundação Herbert von Karajan, em Berlim.

Ao longo da carreira, foi maestro titular da Orquestra Filarmónica de Oslo, da Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera, da Orquestra de São Petersburgo e da Orquestra do Real Concertgebouw de Amesterdão, com as quais fez algumas das mais premiadas gravações do repertório sinfónico.

Foi maestro convidado principal das orquestras Filarmónica e Sinfónica de Londres, era maestro honorário da Filarmónica de Viena – com quem repetiu a direção dos Concertos de Ano Novo (2006 e 2016) – e foi diretor musical da Orquestra Sinfónica de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Trabalhou com a Filarmónica de Berlim e a Sinfónica de Boston, entre outras grandes orquestras mundiais.

A sua discografia foi distinguida com dezenas de prémios, dos antigos Choque Musique aos Diapason d’Or, da crítica especializada.

A gravação da 7.ª Sinfonia de Chostakovitch, com a Filarmónica de São Petersburgo, deu-lhe o Prémio Edison, e a “Sinfonia Fantástica”, de Berlioz, que chegou a dirigir em Lisboa, teve o Prémio Luister, com a Orquestrado Real Concertgebouw. Entre outras distinções recebeu o Grand Prix du Disque, pela gravação das Sinfonias n.º 2 e n.º 3 de Arthur Honneger.

Muitas das suas gravações obtiveram a ‘Roseta’, classificação máxima do Guia Penguin.

A insuficiência cardíaca de Mariss Jansons era conhecida desde 1996, quando sofreu um enfarte, no final da direção da ópera “La Bohème”, de Puccini, com Filarmónica de Oslo.

O Real Concertgebouw de Amesterdão lamentou hoje a morte de Jansons lembrando os seus 11 anos de trabalho como maestro titular, durante os quais “a orquestra foi eleita a melhor do mundo pela [revista] Gramophone”.

“Era um maestro maravilhoso, de uma imensa humanidade, detentor do mais doce sorriso”, escreveu o escritor britânico e crítico de música do The Daily Telegraph e da BBC 3 Norman Lebrecht, no seu blog, Slipped Disc.

“O regente deve descobrir o que está para lá da partitura. Não se trata de ler, nota após nota, mas de descobrir o conteúdo da música e de o transformar em imagens e atmosferas”, disse o maestro, em entrevista ao jornal Público, em janeiro de 2004, quando dirigiu em Lisboa a Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera.

Lusa

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Etiquetas: Mariss Jansons

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