O mesmo Estado que prevê gastar 74 milhões de euros a apagar os incêndios dedica apenas 20 milhões de euros para os fogos sejam evitados. Os números são da Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) e foram hoje apresentados pelo jornal Público.
Ao todo, o Orçamento de Estado prevê a afetação de 94 milhões de euros, com 74 milhões de euros (79 por cento) para a ANPC e os restantes 20 milhões (21 por cento) para o Ministério da Agricultura e do Mar apostar na prevenção estrutural. Contudo, o montante destinado ao combate “está sempre sujeito a alguns ajustamentos tendo em conta, essencialmente, o peso associado às despesas extraordinárias”, como alerta a ANPC.
A proporção da distribuição é semelhante à realizada no ano passado, acrescenta o artigo. Em 2012, o Estado gastou 75 milhões de euros com o dispositivo de combate e 18 milhões na prevenção estrutural: 81 contra 19 por cento.
Os especialistas contestam a concentração das verbas no combate, defendendo um equilíbrio entre as duas componentes ou, em caso de favorecimento, uma aposta na prevenção. Só que, como reconhece o antigo diretor-geral dos recursos florestais, Francisco Rego, “não há vasos comunicantes entre o sistema de prevenção e o de combate. São estruturas muito separadas”.
“Devia-se gastar muito mais na prevenção”, insiste Paulo Fernandes, professor do Departamento de Ciências Florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro: “a longo prazo isso iria permitir gastar menos no combate. As intervenções significam um esforço imenso. É um trabalho que nunca acaba e que é preciso manter continuamente”.
Há fatores de outra natureza a contribuir para esta assimetria, acrescenta Pedro Carrilho, técnico florestal na Tapada de Mafra, citado pelo Público: “a gestão florestal e a prevenção é um trabalho mais difícil que não tem tanta visibilidade. Não há muita gente que queira trabalhar na floresta. Não é bem pago nem valorizado socialmente”.
Os dados hoje apresentados, constantes no relatório dos incêndios de 2012, revelam ainda que as equipas de sapadores florestais recebem a maior fatia da verba destinada a prevenção, com 10,6 milhões de euros, e só 3,8 milhões de euros são dedicados a infraestruturas de defesa da floresta.
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