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Funeral de José Mário Branco com palmas, música, emoção e um trajeto de silêncio

O corpo do músico José Mário Branco foi hoje cremado no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, depois de uma cerimónia marcada por muitas palmas, música e emoção.

José Mário Branco morreu na noite de segunda para terça-feira e o corpo esteve até à tarde de hoje na Voz do Operário, de onde o cortejo fúnebre saiu ao fim da tarde, para um trajeto até ao cemitério, a pé, feito de silêncio.

Centenas de pessoas estiveram na Voz do Operário, algumas delas figuras conhecidas, maioritariamente ligadas à esquerda, como os líderes do PCP e do Bloco de Esquerda, respetivamente Jerónimo de Sousa e Catarina Martins. Presente também o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva.

Mas foram essencialmente cidadãos anónimos que encheram a sala maior da Voz do Operário, centenas deles, com mais algumas centenas depois no cemitério, entoando “Eu vim de longe, de muito longe, o que eu andei para aqui chegar”, parte de uma das músicas de José Mário Branco, do álbum “Ser Solid(t)ário”, enquanto o corpo entrava na sala do forno crematório.

Para trás tinham ficado momentos de emoção na Voz do Operário, com os familiares junto da urna tapada de cravos, essencialmente vermelhos, que depois distribuíram pelos presentes, no meio de 10 minutos de palmas que terminaram quando se cantou “Grândola, Vila Morena” e se acenou com os cravos.

Depois da canção de José Afonso – para a qual José Mário Branco concebeu o acompanhamento de passos humanos, na terra –improvisaram-se ainda músicas de José Mário Branco, como “A Cantiga é Uma Arma” e “Eu Vi Este Povo a Lutar”, enquanto a urna era levada para o carro funerário.

E se na Voz do Operário foram as palmas e a música que marcaram o ambiente, o trajeto até ao cemitério, a pé, foi de silêncio, apenas quebrado por um único e grande cartaz a dizer “Também queremos tudo, porra!”, uma frase da música “FMI” e uma homenagem da associação RDA69.

As palmas voltariam ao cemitério e os cravos, que muitos carregaram, voltaram também a cobrir a urna, momentos antes da cremação.

Em frente do edifício, na noite que nem sequer estava fria, muitas centenas de pessoas ainda entoaram, por largos minutos, excertos de canções de José Mário Branco, especialmente “Eu vim de longe, de muito longe, o que eu andei para aqui chegar. Eu vou para longe, para muito longe, onde nos vamos encontrar”.

Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco morreu em Lisboa na noite de segunda para terça-feira, deixando um legado de mais de 50 anos de música e de inquietação, interventiva e militante.

Permanece como um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa desde o final dos anos 1960, num trabalho que também se estende ao cinema e ao teatro.

“Ronda do Soldadinho”, “Queixa das Almas Jovens Censuradas”, “Mariazinha”, “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”, “Aqui Dentro de Casa”, “Margem de Certa Maneira”, “A Morte Nunca Existiu” são algumas das suas canções, anteriores ao 25 de Abril de 1974.

Marcam igualmente a música portuguesa “Inquietação”, “Treze Anos, Nove Meses”, “Ser Solidário”, “A Noite”, “Mudar de Vida”, que deram continuidade à obra.

No ano passado, quando da homenagem que lhe foi prestada na Feira do Livro do Porto, José Mário Branco afirmou: “O que a gente faz é uma gota no oceano do grande caminho da Humanidade”.

Lusa

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