A subida de preços para obter a carta de condução em Moçambique, a partir de segunda-feira, tem motivado enchentes nos serviços do Instituto de Transportes Terrestres de Moçambique (Inatter), em Maputo.
Hoje, a multidão era tanta que obrigou ao destacamento de agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), inclusivamente com recurso à brigada canina, para repor a ordem.
Centenas de utentes já estavam à porta quando os serviços abriram, às 07:00 (menos duas horas em Lisboa).
Júlia Manhiça, estudante, disse à Lusa que quando chegou ao Inatter às 05:20 já havia uma fila longa, mas foi um sacrifício que esteve disposta a fazer porque a subida de preços é “muito exagerada”.
Emitir a carta vai passar de 500 para 2.500 meticais (de sete para 35 euros) e quem vai aprender a conduzir também terá de pagar mais pelo exame.
“O nosso salário mínimo não chega para tratar da nossa carta de condução”, acrescentou, lamentando a recente posição da vice-ministra dos Transportes e Comunicações de Moçambique, Manuela Rebelo, que referiu que obter o documento depende das condições de vida de cada um.
Júlia Manhiça sublinha que muitas pessoas precisam da carta para trabalhar.
Raul Daniel, também na fila, deslocou-se ao local para recuperar o documento de condução antes de os novos preços entrarem em vigor.
“Dizer que só tira carta quem tiver carro é um insulto. Receber cinco mil meticais [70 euros] de salário e tirar 2.500 [35 euros] para a carta é um absurdo”, comentou.
Por sua vez, António Manjate, também à porta do Inatter, considerou que os novos preços são “mais uma forma de se extorquir o povo”.
“O país está numa crise económica, há empresas a despedir trabalhadores e não se justifica que o preço da renovação da carta aumente a este nível”, referiu.
Além do preço de emissão do documento, a taxa de exame de condução para automóveis ligeiros, pesados, motociclos e tratores vai passar dos atuais 100 meticais (1,4 euros) para 2.185 meticais (31 euros) em todas as categorias.
As alterações constam de um diploma ministerial publicado no Boletim da República a 05 de setembro.
A vice-ministra dos Transportes e Comunicações de Moçambique, Manuela Rebelo, justificou na última semana o aumento com o facto de as atuais taxas serem insustentáveis.
“Acha que com 500 meticais [sete euros] posso produzir uma carta de condução?”, questionou, interpelada por jornalistas.
Segundo Manuela Rebelo, a atualização de valores segue a linha do fim de diversos subsídios estatais à economia.
“É o Governo que está a subsidiar” a emissão de cartas de condução, deixando o Instituto Nacional dos Transportes Terrestres (Inaterr) de Moçambique numa situação financeira difícil, referiu.
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