No pequeno recinto rodeado de polícia, encaixado entre o Ground Zero e o centro financeiro de Nova Iorque, cerca de meio milhar de pessoas concentrava-se na tarde de segunda feira, alguns para mais uma marcha de protesto, outros para fazerem trabalho voluntário no campo: alimentar os blogues, distribuir comida, bebida ou panfletos.
Pizzas, donuts, sandes ou caixas de bananas, explicou à Lusa um voluntário reformado chamado Chamyar, são oferecidos e mandados entregar através da internet por simpatizantes que estão na cidade e sítios distantes como a Califórnia ou até mesmo a Nova Zelândia. Ao seu lado, a jovem Lucy conta que ouviu que também do Egito chegaram ofertas.
“Por que vim? Por que não? É o tipo de coisa que faço, de que gosto. Sou uma pessoa ativista”, adiantou a “anarquista” de 26 anos, “empregada mas a ganhar pouco, o suficiente para viver” que vem todos os dias de Brooklyn para a manifestação.
À entrada do recinto, dezenas de manifestantes tocam incessantemente tambores ou até baldes, agitam paus-de-chuva ou simplesmente batem palmas, fazendo lembrar música dos índios norte-americanos.
Um pouco mais abaixo, um idoso de barba branca toca flauta transversal e, num recanto, um casal faz exercícios de yoga.
O centro nevrálgico do acampamento é a chamada área de “media”, onde através de computadores portáteis, os membros atualizam blogue e redes sociais com texto, áudio e vídeo sobre o que se está a passar no acampamento ou nas marchas de protesto que dele irradiam para as ruas circundantes ao longo do dia.
Essencialmente contra a desigualdade económica, as manifestações tiveram início a 17 de setembro e ganharam adesão e atenção mediática sobretudo depois das detenções de manifestantes (700) no sábado e de agressões policiais na semana anterior.
O jovem Andrew veio de autocarro de Filadélfia, cerca de uma hora e meia de viagem, mas, de skate debaixo do braço, tem alguma dificuldade em explicar porquê.
“Tem alguma coisa a ver com cenas das empresas, isso eu sei. Alguém me disse, `queres que te pinte a cara?´, e eu disse `sim, altamente´”, disse o jovem com um colar de notas de dólar à volta do pescoço e a cara pintada de branco e vermelho-sangue nos cantos da boca, como um vampiro.
“Eu apoio a causa deles, e isso, mas agora não tenho assim um discurso longo”.
No meio de muita gente que passa, a jovem Mabel está sentada ao lado de uma mão gigante, das cores da bandeira americana, com os dedos indicador e do meio a fazer o “V” de vitória.
“Acho que é importante que nos mantenhamos pacíficos, porque o momento em que os protestos se tornarem violentos é o momento em que a nossa causa vai pelo cano”, afirma a jovem de Jacksonville, Flórida, que chegou no sábado a Nova Iorque depois de uma viagem de 16 horas e acabou detida pela polícia no mesmo dia, juntamente com 700 manifestantes na ponte de Brooklyn.
“Vi Times Square, a Estátua da Liberdade, Chinatown, o Empire State Building, todas essas coisas pela minha primeira vez na minha vida, com algemas e a ser transportada num autocarro da polícia para a cadeia”, adiantou à Lusa.
Ao lado está sentado o namorado e companheiro de viagem, Seth, que pediu férias ao seu empregador, Bank of America, uma das instituições mais vilipendiadas pelo movimento, porque “não sendo contra o capitalismo ou contra o governo”, acredita que “tem de haver um sistema melhor para que as vozes das pessoas sejam ouvidas”.
Na Praça uma conversa rapidamente se torna num comício, e Brian junta-se para contar a sua história: licenciou-se em agosto, aos 23 anos, com “cinco cartas de recomendação” e está a trabalhar “por 13 dólares a hora a guiar um carro blindado por zonas muito más” de Nova Jérsia. “É terrível”.
“Quero fazer 40 mil dólares por ano, é tudo. Posso pôr dinheiro de lado, pagar as minhas contas e viver confortavelmente”, disse à Lusa.
Aqueles que vêm pela primeira vez ao recinto têm cartão e tintas à disposição para escrever o seu cartaz. Num deles uma jovem escreve latim: “Sapere aude – ousa saber”.
Algumas das mensagens favoritas são “taxar os ricos” e “eles [os bancos] foram resgatados, nós fomos vendidos”.
Ao longo do dia, vão sendo convocadas assembleias para distribuir tarefas. Alguns sentam-se apenas a fumar cigarros, a tricotar, a comer ou mesmo a jogar “Scrabble” no chão.
“Dada” veio para difundir Ananda Marga – não uma “religião, muito menos um culto”, mas uma “filosofia social e económica”. Veste uma t-shirt cor de laranja onde se lê “pessoas que se lucram com o sofrimento dos outros são imorais”.
“O Ter é o nível mais baixo do ser da Humanidade, o Fazer é o do meio, e Ser é o mais subtil, onde se chega através da meditação”, explica à Lusa.
A estudante universitária Stacy, do Connecticut, dormiu pela primeira vez ao relento na Praça no domingo, para “participar na revolução espiritual em todo o mundo”
“O primeiro passo é criar uma comunidade de amor, depois vemos para onde vamos”.
O imigrante mexicano Israel veio para a Praça empunhando um cartaz com uma mensagem política clara: “[O presidente venezuelano Hugo] Chavez disciplinou as grandes empresas e banqueiros, mas Obama não”.
Sim, admite que na Venezuela “as coisas estão difíceis”. “Mas em que país é que não estão?”.
No México 302 famílias são donas da riqueza do país. E o povo a morrer de fome. É isto a democracia?”, questiona. Pouco depois, tirava a boina “à Chavez” e saía a correr para o trabalho.
Paulo Dias de Figueiredo, da Agência Lusa
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