A 11 de março de 2011, um sismo e um tsunami atingiram uma central em Fukushima, provocando o maior desastre nuclear desde Chernobil. “O futuro do Japão esteve em jogo”, admitiu o então primeiro-ministro, admirado por ver que o país ainda tem centrais nucleares ativas.
Numa sexta-feira que parecia igual às outras, o chão tremeu. Um tremor de terra, com magnitude 9.0, fez levantar um tsunami que varreu uma grande parte do arquipélago japonês. Era o dia 11 de março de 2011.
Na frente da muralha de água estava a central nuclear de Fukushima Dai-ichi. Dois reatores não resistiram ao impacto, libertando radioatividade para o ar. Em desespero, os responsáveis da Tokyo Electric Power Co (TEPCO), a operadora da central, mandaram vazar a água utilizada para tentar arrefecer os reatores, contaminando o mar para as próximas décadas.
Quase 20 mil pessoas morreram e mais de 400 mil foram obrigadas a deixar a região, num perímetro de 20 quilómetros. Mas a evacuação poderia ter tido uma escala de guerra. Naoto Kan, o primeiro-ministro do Japão que defendia a aposta na energia nuclear, defende agora – cinco anos depois – que o desastre esteve “a uma folha de papel” de obrigar à retirada de mais de 50 milhões de pessoas.
Repita-se: mais de 50 milhões de pessoas.
“Desde 11 de março, quando ocorreu o incidente, até ao dia 15, os efeitos [da contaminação radioativa] estavam a expandir-se geograficamente. De 16 a 20, conseguimos deter o avanço da radiação, mas a margem de que dispúnhamos era da largura de uma folha de papel. Se os tambores de combustível de todos os seis reatores tivessem derretido, Tóquio seria sem dúvida afetada”, revelou o antigo governante.
Tal catástrofe só foi evitada com o bombeamento de água do mar para refrigerar os reatores, o que provocou danos irreparáveis no ambiente marinho por um período de tempo incalculável. Uma resposta desesperada que levou o diretor da central, Masao Yoshida, a pensar no ‘hara-kiri’, o ritual em que quem perdeu a honra se suicida.
“Mudei de opinião em 180 graus”, admite Naoto Kan, um feroz adversário da política nuclear de Shinzo Abe, o primeiro-ministro que mandou ligar as centrais nucleares que foram desativadas após o desastre de Fukushima
“Temos de olhar para o equilíbrio entre riscos e benefícios. O derretimento de um reator pode destruir toda uma central e, apesar de improvável, o risco é demasiado grande”, insistiu Naoto Kan, garantindo que “nos reatores dois e três ainda estão os tambores de combustível radioativo e existem ainda fugas de pequenos volumes de água radioativa todos os dias, apesar do que diz a TEPCO”.
Cinco anos depois, as autoridades calculam que dez por cento das pessoas desalojadas continuem a viver em acomodações temporárias.
Muitos conseguiram recomeçar a vida, mas uma grande parte da região continua interditada devido à radiação.
Nas contas da TEPCO, serão precisos pelo menos mais 40 anos para recuperar alguma da ‘normalidade’ de Fukushima.
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